É do conhecimento de todos o grande envolvimento que os alunos têm com os meios informáticos. Cada vez mais os alunos passam o seu tempo, livre ou
não, em frente a um computador.
A escola onde lecciono, Escola dos 2º e 3º Ciclos do Ensino Básico de Palmela, dispõe de 12 computadores, ligados em rede, dos quais 7 têm acesso à
Internet. A Sala de Informática está à disposição dos professores que queiram lá desenvolver as suas aulas, bem como dos alunos, desde que lá não estejam a decorrer aulas, e exista um
monitor (geralmente alunos monitores).
A ideia de levar os alunos a frequentar a Sala de Informática, nas aulas de Matemática, foi amadurecendo ao longo do primeiro período. O facto de já existir
algum software, adquirido pela Escola, facilitou o processo.
No início do segundo período, alterei o esquema das aulas em quatro turmas (uma do 7º ano e três do 9º ano). Todas passariam um dia da semana na Sala de
Informática, desenvolvendo actividades diferentes das aulas 'normais'.
Caracterização da Turma
A turma sobre a qual vou relatar frequenta o 9º ano (turma C) e é composta por 9 rapazes e 16 raparigas, com idades compreendidas entre os 13 e 16 anos.
Trata-se de uma turma bastante heterogénea, com interesses muito diversos. Dentro da sala de aula, a turma mostrou, sempre, alguma animosidade face à Matemática, e aos seus conteúdos. Isto
porque, na ideia da maioria dos alunos, a Matemática nada mais era que ser capaz de resolver exercícios.
Os 25 alunos foram distribuídos por 10 computadores, ficando um livre. No computador livre, estava instalado o projector de dados, por forma a poder mostrar, a
toda a turma e de forma visível para todos, alguns procedimentos mais difíceis, bem como poder, no fim, mostrar o(s) resultado(s) pretendido(s). Apesar da existência desta possibilidade, tal
não foi necessário nas aulas da trigonometria, pois todos os alunos concretizaram o seu trabalho, não tendo sido necessário recorrer ao projector nem ao longo nem no final da aula.
Objectivos
A ideia foi, tal como nos anos anteriores em que leccionei trigonometria, levar os alunos a apreciar a matéria em causa, a compreendê-la e a reconhecer a sua
utilidade na resolução de muitos problemas. Isto porque, quando gostamos de um assunto, debruçamo-nos com mais gosto e empenho sobre os seus desafios.
Descrição
O capítulo da Trigonometria desenvolve-se durante o terceiro período lectivo, pelo que os alunos manipulam já razoavelmente o Geometer's Sketchpad (utilizado
anteriormente no estudo dos ângulos e arcos).
Numa primeira aula, na sala, foram introduzidas as razões trigonométricas. Resolveram-se alguns exercícios simples, quer de cálculo das razões quer dos
ângulos. Pôs-se então um problema: como levar os alunos a compreender algumas das relações entre as razões trigonométricas? Em contacto com os professores do Gabinete do Nónio da Escola
Superior de Educação de Setúbal, os Professores Margarida Rodrigues e Carlos Carvalho prontificaram-se de imediato a dar toda a ajuda.
Elaborámos então um esquema de duas aulas a realizar na Sala de Informática: uma primeira para os alunos se aperceberem da construção de um triângulo
rectângulo dinâmico (i.é., um dos ângulos seria sempre de 90 graus, mesmo depois do arrastamento de um qualquer vértice); a segunda aula, para procurar algumas relações entre as razões
trigonométricas, que era o objectivo proposto.
A primeira aula, na Sala de Informática, foi dedicada em exclusivo à construção de triângulos. Os alunos começaram por construir triângulos
rectângulos, na sua aparência, que, ao arrastar os vértices, ou se partiam ou desfaziam o ângulo recto (logo deixavam de ser triângulos rectângulos). Aos poucos, e sugerindo uma
exploração dos menus (em particular do Construct) os alunos foram-se apercebendo de outros processos de construção de figuras geométricas que mantinham sempre certas
características. |
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Depois de construídos os triângulos rectângulos dinâmicos, os alunos procuravam as amplitudes dos ângulos, bem como as medidas dos lados por forma a poderem
determinar as razões trigonométricas.
Na segunda aula, os alunos pegaram no final da primeira e continuaram, agora, a explorar as possíveis relações existentes entre as três razões
trigonométricas (seno, coseno e tangente). Foi uma aula diferente em que os alunos tinham de explorar possíveis situações, processo esse que os alunos não estão habituados a fazer.
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A terceira aula, já na sala de aula, serviu para assentar ideias relativamente às relações entre as razões trigonométricas, e
tentar compreender a utilidade destas aulas (em particular das possíveis alterações no sentido de uma melhor rentabilização para os alunos). Procurei também obter algum feedback dos
alunos, no que diz respeito às aulas na Sala de Informática. |
Apreciação Crítica
Como já havia notado em conteúdos anteriores desenvolvidos na Sala de Informática, deve haver algum cuidado na constituição dos grupos, ou num possível
ajustamento a fazer à posteriori. Isto porque, se muitos alunos estão bastante familiarizados com a manipulação dos computadores, muitos existem também que têm medo de lhes mexer, o que os
prejudica, pois não retiram, assim, o prazer que este tipo de actividades poderia proporcionar. Engraçado foi reparar que alguns dos melhores alunos na aula tradicional não se sentem tão
seguros em frente a um computador (talvez pela falta de hábito).
Um pequeno pormenor, julguei eu, seria o distribuir, a cada grupo, uma disquete para gravarem o seu trabalho. Esse pequeno detalhe mostrou ser importante para os
alunos, pois a segunda aula iniciou-se com o trabalho desenvolvido na primeira o que permitiu uma continuidade que foi sentida por todos.
Da apreciação crítica recebida da parte dos alunos, estes são alguns dos comentários:
"...é uma maneira original e educativa de trabalhar com os números (...). A Matemática trabalhada com o computador ajuda-nos a saber a matéria e a
trabalhar com o computador!..."
"... Penso que assim os alunos compreendem melhor a matéria pretendida..."
"...foram aulas mais interessantes (...) foram diferentes..."
" ...é um método divertido e menos monótono de trabalhar a matéria..."
"...aprende-se muito mais depressa pesquisando por nós mesmos do que estar a ouvir uma pessoa a explicar no quadro..."
"...só tenho pena de não ter lá muita prática a lidar com os computadores, apesar de ter um em casa..."
É um facto incontornável que a maioria dos alunos associa os computadores a jogos, e mais recentemente à navegação na Internet. Foi portanto, uma tarefa
suplementar, levar os alunos a associar o computador a uma nova função que é, explorando por sua própria iniciativa e/ou incentivados por tarefas propostas pelo professor, aprender
Matemática.
Julgo caber a nós, PROFESSORES, abrir os horizontes a todos os nossos alunos, no que diz respeito aos meios informáticos, para que um dia os computadores não
sejam mais um meio passivo (ainda que interactivo), como o é hoje a televisão, e na qual nada se aprende, e todos os meios servem para procurar audiências, para levar todos a comprar o
indispensável e o dispensável, numa guerra sem regras e onde ninguém sabe onde vai acabar...