por
João Pires
(Professor Assistente
do Departamento de Artes Plásticas da ESE)
Semana
de interrupção
de actividades lectivas
Num momento
de frustração liguei o televisor e sintonizei um canal
nacional. Era meu objectivo talvez um pouco de lazer,
talvez um pouco de cultura, quiçá porventura, um pouco
de ambos (nunca se deve pedir pouco, pois pouco receberemos).
Dois
minutos.
Dois
minutos foi o que me bastou para num impacto de indisposição
ser atormentado por uma necessidade urgente de desligar
a televisão e recolher-me a um canto onde, pura e simplesmente,
não me aborrecessem.
Dois
minutos. Valeu-me a companhia em que estava e o calmante
que não tomei mas devia ter tomado, para evitar mais
um dos muitos telefonemas de protesto aos nossos serviços
de informação.
Porquê?
Porque o nosso sistema informativo, sim, esse que supostamente
deveria nos INFORMAR, apresentava à boca cheia, uma
peça jornalística (de carácter duvidoso) sobre as maleitas
advindas das normalmente conhecidas “semanas de interrupção
lectiva”, novidade que com tudo menos novo o Ministério
da Educação presenteia pais, educadores e educandos.
Pergunto-me:
- Como podemos ser tão mal informados? Mais grave, como
o aceitamos?
Na
referida peça era entrevistado em sua própria casa um
casal com três filhos, empregada doméstica e um ar muito,
mas mesmo muito classe média- alta. Criticava-se a dita
“semana”, pois não permitia gerir a casa, transtornava
o emprego dos pais, que fazia isto, que fazia aquilo,
meu Deus, que desgraça.
Desgraça
a minha que apanhei com isto de seguida, sem direito
a intervalo e Prozac.
Acredito
e compreendo o transtorno de alguns pais advindo desta
“semana”. Compreendo as críticas, as angústias, o desespero
exacerbado. No entanto pergunto quando deixaremos de
encarar a escola/instituição como mais um “depósito”
de crianças, que ali estão entretidas e desviadas dos
“maus caminhos” enquanto os pobres pais trabalham para
sustentar a família?
A
escola é um antro de sabedoria. A escola é um local
de trabalho. A escola é um centro de formação. Não é,
nem nunca será (espero eu) uma colónia de férias onde
largar os filhos.
Porquê
uma semana de interrupção?
Um
período de trabalho, de reflexão, de análise, de introspecção
...não sei. Cada um terá as suas razões para a defender,
e como diz o povo “cada um puxa a brasa à sua sardinha”.
Porquê
tanta polémica?
Onde
ficam os filhos nas férias? Onde ficam os filhos nos
fins-de-semana em que os pais, trabalhadores por conta
de outrém permanecem nos seus turnos de labuta? Onde
ficam os filhos nos períodos diurnos, em que sem aulas,
encontram os pais ainda no seu horário de trabalho?
Onde?
Talvez
seja altura de pedir, não que se eliminem as semanas
de interrupção, mas que se desenvolvam soluções.
Soluções infra-estruturais, inexistentes no nosso
país. Centros de tempo livre, centros de estudo,
creches, infantários, soluções suportadas pelo
estado. Não deleguemos essas responsabilidades
na escola. Esta já tem responsabilidades a mais
e braços a menos para as cumprir.
|