... a defesa das ideias


Às quartas 14/11/2001
João Pirespor João Pires
(Professor Assistente
do Departamento de Artes Plásticas da ESE)

Semana de interrupção
de actividades lectivas


Num momento de frustração liguei o televisor e sintonizei um canal nacional. Era meu objectivo talvez um pouco de lazer, talvez um pouco de cultura, quiçá porventura, um pouco de ambos (nunca se deve pedir pouco, pois pouco receberemos).

Dois minutos.

Dois minutos foi o que me bastou para num impacto de indisposição ser atormentado por uma necessidade urgente de desligar a televisão e recolher-me a um canto onde, pura e simplesmente, não me aborrecessem.

Dois minutos. Valeu-me a companhia em que estava e o calmante que não tomei mas devia ter tomado, para evitar mais um dos muitos telefonemas de protesto aos nossos serviços de informação.

Porquê? Porque o nosso sistema informativo, sim, esse que supostamente deveria nos INFORMAR, apresentava à boca cheia, uma peça jornalística (de carácter duvidoso) sobre as maleitas advindas das normalmente conhecidas “semanas de interrupção lectiva”, novidade que com tudo menos novo o Ministério da Educação presenteia pais, educadores e educandos.

Pergunto-me: - Como podemos ser tão mal informados? Mais grave, como o aceitamos?

Na referida peça era entrevistado em sua própria casa um casal com três filhos, empregada doméstica e um ar muito, mas mesmo muito classe média- alta. Criticava-se a dita “semana”, pois não permitia gerir a casa, transtornava o emprego dos pais, que fazia isto, que fazia aquilo, meu Deus, que desgraça.

Desgraça a minha que apanhei com isto de seguida, sem direito a intervalo e Prozac.

Acredito e compreendo o transtorno de alguns pais advindo desta “semana”. Compreendo as críticas, as angústias, o desespero exacerbado. No entanto pergunto quando deixaremos de encarar a escola/instituição como mais um “depósito” de crianças, que ali estão entretidas e desviadas dos “maus caminhos” enquanto os pobres pais trabalham para sustentar a família?

A escola é um antro de sabedoria. A escola é um local de trabalho. A escola é um centro de formação. Não é, nem nunca será (espero eu) uma colónia de férias onde largar os filhos.

Porquê uma semana de interrupção?

Um período de trabalho, de reflexão, de análise, de introspecção ...não sei. Cada um terá as suas razões para a defender, e como diz o povo “cada um puxa a brasa à sua sardinha”.

Porquê tanta polémica?

Onde ficam os filhos nas férias? Onde ficam os filhos nos fins-de-semana em que os pais, trabalhadores por conta de outrém permanecem nos seus turnos de labuta? Onde ficam os filhos nos períodos diurnos, em que sem aulas, encontram os pais ainda no seu horário de trabalho? Onde?

Talvez seja altura de pedir, não que se eliminem as semanas de interrupção, mas que se desenvolvam soluções. Soluções infra-estruturais, inexistentes no nosso país. Centros de tempo livre, centros de estudo, creches, infantários, soluções suportadas pelo estado. Não deleguemos essas responsabilidades na escola. Esta já tem responsabilidades a mais e braços a menos para as cumprir.