... a defesa das ideias


Às quartas 04/07/2001
Albertina Palmapor Albertina Palma
(
Professora do Departamento de Línguas da ESE)


De reforma em reforma... até à reforma!

Julho aí está, com o calor e o cansaço acumulado durante um ano de trabalho, com os pacotes de férias em papel e on-line a chamar à praia, ao campo, aos monumentos, às culturas exóticas, enfim, ao lazer mais do que merecido.

É mais um ano lectivo que está a chegar ao fim. Mais uma vez o ano termina sob o signo, o espectro, a ameaça, o desencanto antecipado da Reforma. Mais uma. Curricular, desta vez.

Confrange assistir à incapacidade que o nosso Ministério de Educação revela em compreender na prática (penso que há bons teóricos a ocupar assentos no Ministério!) o verdadeiro alcance e as reais implicações de uma reforma educativa. Pensar que a educação pode melhorar por obra e graça de legislação que ordena, por exemplo, ao professor/a que tenha uma visão interdisciplinar da sua disciplina (que é tão específica que levou 4 ou 5 anos a aprender na Universidade) a ponto de a fundir com a do seu colega (que levou outros tantos anos a aprender a sua), roubando-lhe ainda por cima grande parte do seu quinhão de tempo, por um lado, e aumentando-lhe, por outro, a unidade de tempo curricular para quase o dobro, só demonstra que (pese embora as boas intenções, e eu acredito que estas intenções são boas!) não conhece os professores, nem a sua formação, nem as suas teorias de acção, nem as suas práticas.

Diz a teoria a quem lê livros e a prática a quem é observador que para mudar são precisas, no mínimo, três coisas:

1º Estar descontente, isto é, achar que a situação não é satisfatória. Até aqui, tudo bem, conheço poucos professores/as que estejam satisfeitos com o rumo que leva a educação e concretamente com as escolas, os programas, a avaliação, os manuais, etc.

2º Acreditar que é possível mudar para melhorar, ou seja, acreditar num projecto que consensualmente dê indicações claras de melhoria, em vez de apelar a mais experiências que exigem muito esforço sem garantias de resultados. Isto já é mais difícil pois a qualidade em educação é um conceito subjectivo, cujo significado exige negociação (negociação a sério, não apenas auscultação!) das partes envolvidas.

3º Ter capacidade. Por exemplo: não adianta muito a alguém, embora seja esse o primeiro passo para o seu empenhamento na mudança, querer promover um ensino centrado no aluno/a, se não possuir e/ou não souber utilizar mecanismos, instrumentos e materiais de diferenciação pedagógica. Daí que as propostas de novas abordagens educativas tenham que ser devidamente acompanhadas de planos de formação adequados. Não é o caso. Política educativa e formação de professores são no presente duas realidades dissociadas no espaço, no tempo e na lógica interna.

Contra a teoria e contra as experiências eficazes de inovação, que as há, em Portugal também como noutros países, a presente situação da educação básica e secundária, da responsabilidade de sucessivos Ministérios de Educação cheios de boas intenções (para já não falar da paixão que arrefeceu há muito, como é, aliás, próprio de qualquer paixão), pode descrever-se genericamente em três palavras: descontentamento (em relação ao presente); descrença (em relação às propostas); incapacidade (em relação aos desafios). Ou seja, caracteriza-se pela imobilidade associada a uma aguda, embora difusa, sensação de desconforto. É estéril.

Em Portugal, quando as Reformas não resultam, como é o caso, já que a comunidade não reconhece melhorias recentes em matéria de educação, o nosso Ministério mais não faz do que anunciar outras, e outras, e outras... e assim andam os professores/as portugueses de Reforma em Reforma, esforçadamente a fazer tudo sempre igual ao que afinal sabem fazer, até que um Julho calorento lhes dê por fim a almejada reforma que bem merecem.