por
Albertina Palma
(Professora
do Departamento
de Línguas da ESE)
De reforma em reforma... até à reforma!
Julho
aí está, com o calor e o cansaço acumulado durante um
ano de trabalho, com os pacotes de férias em papel e
on-line a chamar à praia, ao campo, aos monumentos,
às culturas exóticas, enfim, ao lazer mais do que merecido.
É
mais um ano lectivo que está a chegar ao fim. Mais uma
vez o ano termina sob o signo, o espectro, a ameaça,
o desencanto antecipado da Reforma. Mais uma. Curricular,
desta vez.
Confrange
assistir à incapacidade que o nosso Ministério de Educação
revela em compreender na prática (penso que há bons
teóricos a ocupar assentos no Ministério!) o verdadeiro
alcance e as reais implicações de uma reforma educativa.
Pensar que a educação pode melhorar por obra e graça
de legislação que ordena, por exemplo, ao professor/a
que tenha uma visão interdisciplinar da sua disciplina
(que é tão específica que levou 4 ou 5 anos a aprender
na Universidade) a ponto de a fundir com a do seu colega
(que levou outros tantos anos a aprender a sua), roubando-lhe
ainda por cima grande parte do seu quinhão de tempo,
por um lado, e aumentando-lhe, por outro, a unidade
de tempo curricular para quase o dobro, só demonstra
que (pese embora as boas intenções, e eu acredito que
estas intenções são boas!) não conhece os professores,
nem a sua formação, nem as suas teorias de acção, nem
as suas práticas.
Diz
a teoria a quem lê livros e a prática a quem é observador
que para mudar são precisas, no mínimo, três coisas:
1º
Estar descontente, isto é, achar que a situação não
é satisfatória. Até aqui, tudo bem, conheço poucos professores/as
que estejam satisfeitos com o rumo que leva a educação
e concretamente com as escolas, os programas, a avaliação,
os manuais, etc.
2º
Acreditar que é possível mudar para melhorar, ou seja,
acreditar num projecto que consensualmente dê indicações
claras de melhoria, em vez de apelar a mais experiências
que exigem muito esforço sem garantias de resultados.
Isto já é mais difícil pois a qualidade em educação
é um conceito subjectivo, cujo significado exige negociação
(negociação a sério, não apenas auscultação!) das partes
envolvidas.
3º
Ter capacidade. Por exemplo: não adianta muito a alguém,
embora seja esse o primeiro passo para o seu empenhamento
na mudança, querer promover um ensino centrado no aluno/a,
se não possuir e/ou não souber utilizar mecanismos,
instrumentos e materiais de diferenciação pedagógica.
Daí que as propostas de novas abordagens educativas
tenham que ser devidamente acompanhadas de planos de
formação adequados. Não é o caso. Política educativa
e formação de professores são no presente duas realidades
dissociadas no espaço, no tempo e na lógica interna.
Contra
a teoria e contra as experiências eficazes de inovação,
que as há, em Portugal também como noutros países, a
presente situação da educação básica e secundária, da
responsabilidade de sucessivos Ministérios de Educação
cheios de boas intenções (para já não falar da paixão
que arrefeceu há muito, como é, aliás, próprio de qualquer
paixão), pode descrever-se genericamente em três palavras:
descontentamento (em relação ao presente); descrença
(em relação às propostas); incapacidade (em relação
aos desafios). Ou seja, caracteriza-se pela imobilidade
associada a uma aguda, embora difusa, sensação de desconforto.
É estéril.
Em
Portugal, quando as Reformas não resultam, como é o
caso, já que a comunidade não reconhece melhorias recentes
em matéria de educação, o nosso Ministério mais não
faz do que anunciar outras, e outras, e outras... e
assim andam os professores/as portugueses de Reforma
em Reforma, esforçadamente a fazer tudo sempre igual
ao que afinal sabem fazer, até que um Julho calorento
lhes dê por fim a almejada reforma que bem merecem. |