por
João Pires
(Professor Assistente
do Departamento de Artes Plásticas da ESE)
Greve:
de ideias ou de actos?
Greve: s.
f. Cessação ou paragem do trabalho de pessoas empregadas,
com o mesmo ofício, feito de comum acordo com o fim de
impor certas condições ao patronato.
Recordo
que, alguns anos atrás, presenciei uma tentativa de “levantamento
de rancho” numa escola onde me encontrava a leccionar.
A
escola em questão era como centenas de outras, simples,
arrumada, equipada mas com uma particularidade, era nova.
Podem
julgar que este facto não significa nada. Mas significa.
Os docentes são novos, os funcionários são novos, os alunos
são novos. Tudo é novo.
A
dada altura do ano lectivo um grupo de alunos decidiu
marcar uma greve devido às condições do refeitório… que
não existia. Todos nós almoçávamos num bar/cantina da
escola, com comida servida por uma empresa de catering,
mais fria que quente.
Devo
admitir que por breves instantes todos os meus impulsos
foram no sentido de me unir a esta causa tão singela mas
tão importante para cada um de nós.
Grevista:
s. m. e f. Promotor ou membro de alguma greve.
Como,
durante o desenrolar dos acontecimentos me encontrava
a leccionar uma aula, decidi explicar-lhes a origem da
greve, o seu surgimento no período da revolução industrial,
o que significava, as suas implicações, etc.
Os
meus alunos, como não podia deixar de ser, aderiram à
greve, numa ruidosa demonstração de descontentamento com
a qualidade da comida.
Foi
engraçado, como movimento embrionário sindical. Todos
os docentes sorriram na sua complacência de adulto que
percebe e apoia, mesmo que implicitamente.
Repressão:
s. f. Acto ou efeito de reprimir.
Reprimir:
v. tr. Suster a acção, o efeito ou o movimento de; coibir,
conter, proibir, impedir.
Foi
realmente uma situação passageira. Mas como qualquer situação
que vive do momento e no momento, deu os seus frutos.
Levou a que se discutisse liberdades, políticas, civismo,
democracia. E levou-me a questionar. Questionar o meu
papel na sociedade, o meu desempenho enquanto formador,
o meu contributo para a liberdade que me concederam.
Os
meus alunos não acompanharam o 25 de Abril. Não sabem
o que foi para poder agora ser. E eu tentei explicar.
Tentei instalar a discussão para o convívio, para a aprendizagem.
Consegui?
Não
sei. O que sei, o que faz parte do meu ser é a convicção
absoluta que o civismo, a liberdade, a política, a democracia
deve ser discutida na escola. Sem tabus, sem repressões,
sem angustias reprimidas e medos antigos.
Só
assim teremos a certeza que não nos estamos a tornar numa
sociedade muda, cega e surda, como qualquer autocrata
gostaria que fossemos.
É
desta discussão aberta, franca, sincera que sairão as
ideias, as políticas para um amanhã melhor. É também isto
que devemos fomentar nas nossas aulas, o convite à abertura
de mentalidades, à consciencialização política, à democratização
da escola.
Ou
só nos interessa o que consta do programa curricular? |