As crianças do ensino primário
mudaram. Isso entende-se, isso vê-se. As meninas influenciadas pelos seus
ídolos sexy desejam ter um ar de mais velhas. Quanto aos rapazes, esses
vestem camisolas com a esfinge dos seus heróis utilizando muito
frequentemente a violência como forma de comunicação.
Ao verem-se as crianças de hoje nas escolas a
insultarem-se entre si, e ao constatar-se que muitos dos professores e dos
vigilantes ficam completamente indiferentes face às consequências destes
actos, pode-se concluir que não nos apercebemos que estamos perante crianças
perturbadas na sua inocência e que, desde muito cedo, pretendem "jogar" como
os adultos.
É sabido que "as crianças não acreditam mais
no pai Natal". Elas parecem ter perdido a sua infantilidade, para viver as
coisas que outrora outras crianças da mesma idade nunca imaginou poder ser
feito.
Algumas das crianças de hoje já arrastam em
si alguns factores de uma enorme responsabilidade; estão mais preocupadas
com problemas que muitas vezes lhes são transmitidos por parte dos pais.
É conhecido que a tendência das crianças para
a agressividade provêm dum ambiente difícil, habitualmente caracterizado por
contextos de disputa. É ao absorverem estes exemplos que elas manifestam na
escola comportamentos desviantes.
Costuma-se dizer que fazemos o que
aprendemos. Se por exemplo os pais utilizam ou proporcionam aos olhos dos
seus filhos, episódios de violência, as crianças farão o mesmo no seu lugar
privilegiado de aprendizagens - a escola. As crianças que vivenciam momentos
de menos afecto e comunicação, são frequentemente pouco respeitadoras para
com a autoridade. Este comportamento provém num grande número dos casos de
um tipo de relação que está presentemente tão em voga nas famílias, a
relação dos pais-amigo. Quer dizer em casa os pais têm dificuldade em
encontrar o limite entre a autoridade e a amizade. Não tendo restrições em
casa, as crianças não compreendem por que haverão de as ter na escola ou
noutros locais.
Esta situação é, antes de mais, um problema
da família. Ter os pais como recurso de comunicação e por vezes de apoio
terapêutico, é antes de tudo ter pais disponíveis para estarem mais
receptivos e capazes de ouvir e de desejar mudar a sua atitude.
O excesso de "mimos", de superprotecção para
com os filhos e tudo o que se lhes compra para o seu conforto, é, como se
sabe, uma forma de compensação por os pais quase nunca estarem no momento e
no lugar certo com as crianças. É sabido que dar tudo aos filhos não é a
melhor solução. Seria bom não continuarmos a olhar para o lado como se não
percebêssemos que as crianças cresceram e que será bastante preocupante se
não compreendermos que ainda poderão crescer muitíssimo mais. Se não
estivermos ao seu lado agora, provavelmente, mais tarde já nem sequer as
reconhecemos como nossos filhos.
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