por
António Mendes Lopes
(professor do Departamento de Desporto da ESE)
Profissão:
Professor
Profissão:
professor universitário. Para muitos, menos familiarizados
com o ensino superior, esta profissão evoca uma vida
livre, fácil, feita de algumas aulas por semana, longas
férias estivais e um período de "farniente"
todos os 6/7 anos para licença sabática. Mas se esta
é, eventualmente, a imagem dominante, a realidade é
muito diferente.
Ser professor universitário é, fundamentalmente, ensinar
com rigor e responsabilidade, é saber comunicar a matéria
e variar os métodos de ensino, é dar lugar a trocas
de ideias, é fomentar o trabalho intelectual, é ter
uma preparação específica, é fazer e apoiar a investigação,
é estar atento à competição e à prestação individual,
é ter liberdade de orientação e opinião científica,
é estar ao serviço da sociedade.
Mas vejamos mais em pormenor algumas das suas tarefas.
O professor universitário é um actor que tem um papel
forte e útil ao nível das tarefas de ensino e formação
dos seus estudantes, quer ao nível do desenvolvimento
de projectos de investigação, produzindo novos saberes,
ou ainda da prestação de serviços à colectividade. Dele
se exige rigor e competência no seu domínio científico-técnico
e na abordagem dos conhecimentos e das matérias. Deverá
ser capaz de comunicar bem a matéria e interrogar-se
sobre a melhor maneira de a tornar interessante.
No que diz respeito ao ensino, ele centra sobretudo
a sua acção sobre os trabalhos mais recentes, as problemáticas
mais evidentes, exigindo-se uma preparação sempre actuante,
especialmente no que diz respeito ao seu campo de especialização.
Por isso deve estar actualizado e bem relacionado com
o meio científico e social. Isto implica uma constante
leitura e estudo, assimilando o que há de novo sobre
o saber, mas também assistir a colóquios, seminários
e congressos, quer neles intervindo quer apreendendo
conhecimentos para o seu processo de formação contínua.
A sua actualização é um permanente desafio.
Quanto à produção de investigação, uma das suas principais
obrigações, centra os seus esforços sobre os objectos
da pesquisa em curso, tornando mais explícita a ligação
do saber à sociedade. É nesta componente de intervenção
que o seu trabalho passa, por vezes, por períodos de
grande dificuldade, questionando-se, sobre a utilidade
de continuar, especialmente quando a sua produção não
atinge os resultados estimados, ou o seu trabalho é
menos bem aceite ou mesmo pouco reconhecido.
Para que não se torne um simples repetidor da matéria
a transmitir, todos os anos precisa de refazer o contexto
de trabalho. Requacionar o contacto com os alunos, convencê-los
do que se lhes vai transmitir é interessante e útil,
motivá-los a trabalhar, incentivá-los à discussão, são
tarefas que não pode desprezar. Há sempre todo um contexto
de trabalho que é necessário recriar. Para melhor inovar,
e se consagrar de uma forma criativa ao seu trabalho,
necessita de uma liberdade e de uma ausência de controlo
ao nível das suas ideias, das suas opções metodológicas
ou do espaço temporal para desenvolver as suas diversas
actividades.
Ser professor universitário é ainda ter tarefas de administração
e de gestão (ao nível do seu departamento e dos órgãos
directivos), assumir responsabilidades com a instituição
onde trabalha, bem como com os seus colegas e com o
meio profissional.
Quanto ao pouco tempo de trabalho que lhe é atribuído,
o problema reside numa desvirtuada concepção sobre o
ensino superior. Nem sempre é fácil explicar que, por
exemplo, dar 3 horas de aulas exige um tempo de preparação
bastante longo. Não se entra numa sala de aula como
se fôssemos jantar a casa de amigos e metermo-nos a
falar de tudo e de nada! Para dar uma aula, o professor
tem de fazer a preparação, a pesquisa, a análise, a
escrita, o contacto com o seu computador, com os seus
livros, etc, e isto não é tido habitualmente em consideração.
Poucos sabem que um professor universitário pode chegar
a trabalhar à volta de 70 horas por semana, consagrando
a maior parte da sua energia e do seu tempo ao serviço
da colectividade, contribuindo com projectos para produzir
saberes, participando em planos de desenvolvimento para
dar origem a inovações.
Ainda no que se refere ao tempo (ou melhor, à falta
dele), este é, para si, um enorme problema. Ele tem
de conciliar o ensino, a investigação, a gestão de tarefas,
as reuniões, os artigos a escrever, os "papers"
a apresentar,... Ele deve, por isso, ser muito disciplinado,
se quer que as obrigações, nomeadamente as de natureza
administrativa, não entrem todos os dias em sua casa
ou a resposta aos dossiês se acumulem.
Enfim, ser professor universitário é, ainda:
- assumir o papel técnico e crítico na sua instituição
e na sociedade;
- ter liberdade de expressão científica, técnica e pedagógica;
- ser "patrão" de si próprio com a devida
compensação intelectual;
- ter um salário relativamente fraco quando comparado
com o que se usufrui no sector privado.
- fazer programas de cadeiras e preparar os exames (4
épocas);
- desenvolver planos de estudos e actividade editorial.
Ser professor universitário é sempre uma profissão de
luta. Em primeiro lugar, luta de ideias, mas também
de disputas. Disputas que impeçam os burocratas institucionais
de lhe limitar os seus direitos estatutários, o impeçam
de livremente fazer a investigação, de escrever, de
animar um seminário, ou não lhe concedam os períodos
sabáticos, essenciais para, afastando-se temporariamente,
poder "alimentar o espírito", com vista à
produção de novas propostas, para ler e reinvestir no
trabalho intelectual ou para
fazer avançar de maneira significativa certos projectos
e trabalhos de investigação.
Ser professor universitário é uma profissão pouco conhecida,
nada fácil, mas muito, muito apaixonante. |