por
Ana Pires Sequeira
(Professora
do Departamento de Línguas da E.S.E.)
De
formação em formação até...
o que é difícil é calá-los!...
Numa das
'saborosas' escapadelas às novidades da livraria que
habitualmente 'visito', dei com a mais que divulgada
e publicitada obra: "Difícil é sentá-los".
Lembrei-me serem
palavras de uma professora referindo-se aos seus
alunos e, sorrindo, não pude deixar de pensar que o
que é difícil não é sentá-los quando se trata de professores,
mas sim, que o que é difícil é calá-los... continuando
a sorrir com o trocadilho encontrado, deixei-me levar
pelo caminho recentemente percorrido enquanto formadora/mediadora
num círculo de estudos...
O
que é difícil é calá-los...
Tarefa
difícil quando a formação não se centra na magistral
aula em que o formador actua e os formandos “viram”
espectadores, mas sim na pesquisa, na reflexão e na
partilha de conhecimentos e de práticas.
Vivenciar
um círculo de estudos é poder experienciar tudo isso
e, também, o ultrapassar de inibições pessoais que interditem
o emergir de interrogações profissionais e a procura
comum de percursos alternativos.
A
formação em círculo de estudos não transporta o “adicionar”
de conteúdos, mas “transporta”, tal como Paulo Freire
defendia, as concepções de vida e os valores humanistas
dos seus diferentes participantes, espelhados na profissão.
É,
assim, um processo de desenvolvimento pessoal e profissional
que pressupõe que os participantes desenvolvam competências,
a partir da reflexão sobre as suas práticas e saberes
adquiridos, bem como, fortaleçam a auto-confiança e
a auto-estima de modo a desenvolverem capacidades e
atitudes de intervenção democrática, tanto no seu local
de trabalho, como em qualquer outro contexto.
Este
processo de crescimento comum permite o (re)equacionar
de conhecimentos e práticas dos participantes, tornando-os
mais intervenientes e, em particular, agentes de mudança
nas suas escolas. Podem, assim, tornar-se os actores
privilegiados de mudança nas escolas, assumindo-as como
espaços com determinada autonomia e conferindo a importância
devida aos diferentes contextos e aos diferentes actores
neles envolvidos. É, pois, possível virem a ser o embrião
da descentralização do sistema educativo e do (re)nascer
da autonomia das escolas.
No
nosso país, a prática crescente, embora ainda muito
embrionária, de formação em círculo de estudos tem vindo
a demonstrar que quando os professores começam a “vigiar”
mais de perto a sua prática pedagógica e a reflectir
sobre ela, começam a compreender e a tentar ultrapassar
algumas das lacunas existentes nessa mesma prática.
Um
círculo de estudos organizado em torno de uma
temática pode ser um dos exemplos a seguir. Pensemos
numa temática premente no actual contexto do país, e
das nossas escolas... a multiculturalidade social e
a educação multi/intercultural.
Abordando
esta temática tendo como “pano de fundo” que os professores
estão melhor preparados para ajudarem os alunos a valorizar
e respeitar a heterogeneidade étnica, se tiverem tido
oportunidade, no decurso da sua aprendizagem pessoal
e profissional, de vivenciar e reflectir sobre a importância
de a conhecer, a compreender e a valorizar, e transpondo
esta aprendizagem
para o campo social temos cidadãos melhor preparados
para valorizar e respeitar a heterogeneidade étnica.
Cidadãos com atitudes e comportamentos democráticos
inerentes ao
mundo multicultural em que todos vivemos.
Fácil
perceber porque o que é difícil é calá-los... professores/cidadãos
reflexivos e intervenientes socialmente e no seu local
de trabalho, é difícil calá-los! |