... a defesa das ideias


Às quartas • 01/10/2003

por Mª do Rosário Rodrigues
(
Professora do Departamento de Tecnologias de Informação e Comunicação da ESE de Setúbal)


Internet nas Escolas de 1º ciclo


Durante o ano lectivo de 2002/2003 decorreu, em todo o país, um projecto de apoio do uso educativo da Internet nas escolas do 1º ciclo do Ensino Básico (EB1). O anterior Ministro da Ciência e Tecnologia, Prof. Mariano Gago, colocou um computador em cada EB1 do país, em articulação com as Câmaras Municipais, e sabia que não bastava colocar computadores na escola, era também necessário despoletar vontades para que professores e alunos os utilizassem integrados nas actividades da escola.

Este projecto teve, no distrito de Setúbal, algumas características únicas: foi universal porque englobou todas as EB1, foi desenvolvido em contexto porque o processo de formação decorreu nas próprias EB1 e foi construído no respeito pela realidade de cada EB1 porque se tentou que em cada escola ele se desenvolvesse de acordo com as actividades que a EB1 tinha planeado para o ano lectivo.

Assim, no distrito de Setúbal houve 305 EB1 envolvidas neste processo de formação. A formação foi coordenada pela Escola Superior de Educação que, em conjunto com os Centros de Formação de Professores do distrito, asseguraram mais de 1.000 visitas às EB1. As deslocações e o processo de formação nas EB1 foram assegurados por uma equipa com cerca de 90 professores.

Foi um processo de grande movimentação no distrito, só possível com a colaboração das Câmaras Municipais que são responsáveis pela manutenção dos computadores colocados nas EB1.

Num processo de formação com esta dimensão é difícil medir os resultados. Quando os resultados são apresentados numa forma numérica parece haver um grande sucesso, nomeadamente pelo número de visitas efectuadas (cerca de 1.500, com duração aproximada de 5.400 horas), mas também porque cerca de 89% das EB1 tinha, no final do ao lectivo, a página da escola publicada na Internet.

Mas é também importante perceber se o projecto promoveu a utilização dos computadores e da Internet junto dos professores e alunos das EB1. E esta é uma conclusão difícil de retirar, fundamentalmente porque não há um modelo de escola deste ciclo de ensino. A diversidade de realidades é muito grande e tem várias dimensões: existem escolas com um único professor e outras com mais de vinte professores; cerca de metade das escolas estão localizadas em centros urbanos mas a outra metade é de zonas rurais; e o número e computadores por escola é em média 4 no entanto a esmagadora maioria das escolas só possui um com ligação à Internet e são poucas escolas com um Centro de Recurso onde existam vários computadores. Estas características determinam realidades muito diversas.

Por tudo isto o desenvolvimento que o projecto provocou nas escolas é também muito diverso. Nas escolas em que havia alguma dinâmica com estas tecnologias foi possível resolver problemas e publicar na Internet resultados de projectos desenvolvidos com os alunos. Noutras, as muitas que agora iniciaram a utilização destas tecnologias, quebraram-se algumas barreiras mas para que haja um trabalho efectivo com alunos e professores é ainda necessário que este projecto continue.

O actual Ministério da Educação com a sua actual política de redução de gastos, não esteve envolvido neste projecto pelo que o trabalho desenvolvido por professores e alunos não tem qualquer reconhecimento formal. Mais uma vez se trata de um trabalho de grande empenho de professores deste nível de ensino sem que a tutela o reconheça.

Numa altura em que ainda decorrem negociações para a continuidade do projecto, temos ainda a esperança que as lógicas orçamentais de contenção não limitem um projecto com estas características, que sendo na sua grande maioria financiado por dinheiros comunitários, é importante para que os computadores não se reduzam a elementos de decoração nas escolas do 1º ciclo.