por
Ana Pires Sequeira
(professora
do Departamento de Línguas
da ESE
de Setúbal)
A
formação dos professores
Em
“tempos” de acreditações, avaliações e interrogações sobre
o futuro da formação de professores não podemos fechar
os olhos... cruzar os braços... temos sim que divulgar
o que fazemos, e defender o que “ainda” acreditamos...
ou seja, uma formação de professores em que a teoria e
a prática se articulem e se interliguem e promovam uma
prática pedagógica integrada, ao longo de todo um curso...
Curso de licenciatura em Ensino Básico – 1º Ciclo da ESE
de Setúbal / breve historial
A
ESE de Setúbal tem desde o seu início promovido, em todos
os seus cursos de formação de professores, uma prática
pedagógica integrada. O Curso de licenciatura em Ensino
Básico – 1º Ciclo é disso testemunho.
A
transição do curso de bacharelato para a licenciatura
constituiu uma oportunidade para repensar e recriar o
projecto de formação. Assim, o actual curso foi concebido
a partir da análise e reflexão sobre toda uma experiência
acumulada através dos vários anos de cursos de bacharelato,
de trabalho (no terreno) com professores do 1º ciclo,
e dos diferentes desafios identificados que se colocavam
(e colocam) à profissão docente.
A
esta diversidade de referências identificadas e produzidas
na própria Escola aliaram-se outras, como a partilha de
experiências com especialistas nacionais e internacionais,
na área de formação de professores. É, neste contexto,
que Phillipe Perrenoud é convidado para um encontro de
trabalho. O trabalho resultante do encontro com este especialista
foi um contributo essencial para a base de construção
do currículo, sustentado na formulação de competências.
Outras
referências foram, também, fundamentais. A leitura e a
análise de obras na área de formação de professores é
um exemplo, bem como, a legislação relativa ao ensino
superior e, em particular, a direccionada para a formação
inicial de professores.
Assim,
a concepção do projecto de formação do Curso de licenciatura
em Ensino Básico – 1º Ciclo teve como princípio orientador:
a construção de um perfil geral de desempenho baseado
em competências.
Pode
afirmar-se que este projecto de formação foi (é) um projecto
inovador. Um projecto de formação sustentado na ideia
de que a profissão docente se deve afastar do modelo profissional
de técnico e de funcionário, visto a sua
função não ser a de aplicar modelos pré-formatados,
mas a de os conceber e de os modificar face ao conhecimento
prático adquirido nas diferentes experiências vivenciadas,
e da reflexão sobre as mesmas, tendo como suporte as teorias
educacionais e os valores e crenças pessoais. Temos, assim,
um perfil de profissional reflexivo capaz de se
integrar e compreender uma comunidade, definir metas,
resolver problemas, gerir o currículo, conceber e implementar
projectos adequados e, ainda, reflectir sobre o
seu próprio percurso profissional/formativo.
Este
breve historial conduz-nos ao papel da Prática
Pedagógica no curso e a uma concepção do exercício da
profissão docente de uma forma mais construtiva, interactiva
e reflexiva.
A Prática Pedagógica e o Curso de licenciatura em Ensino
Básico – 1º Ciclo da ESE de Setúbal
A
Prática Pedagógica é o eixo estruturante do projecto de
formação do Curso de licenciatura em Ensino Básico – 1º
Ciclo, e organiza-se em torno de uma lógica sequencial
de quatro disciplinas correspondentes, respectivamente,
a cada ano do curso. São as disciplinas de Prática
e Reflexão Pedagógica I, II, III e IV.
Num
currículo sustentado para o desenvolvimento de competências,
a Prática Pedagógica procura, progressivamente, trabalhá-lhas
em articulação com os outros intervenientes no processo
de formação, nomeadamente, todas as outras áreas científicas
do curso. Pretende-se, assim, possibilitar aos alunos
um suporte que lhes permita irem-se apropriando do que
têm de saber e saber fazer em cada situação e momento
de formação afim de propiciar um processo que se pretende
reflectido, clarificado e eficaz para todos os intervenientes.
As
disciplinas de Prática e Reflexão Pedagógica estão concebidas
como um percurso contínuo e gradual, onde a complexidade
da profissão docente é vivida, observada, analisada e
reflectida nas suas diferentes dimensões, de forma igualmente
contínua e progressiva, em responsabilidades e tarefas
cada vez mais abrangentes. Os estágios fazem parte integrante
deste processo e destas disciplinas, e organizam-se numa
perspectiva de continuidade e responsabilidade progressiva
dos alunos, aprofundando o ser, o saber ser e o saber
fazer do aprendiz de professor.
Trata-se
de um processo gradual de observação de diversos contextos
e dinâmicas educativas, no 1ºano do curso, à observação
de aulas e ao assumir da prática pedagógica, por períodos
cada vez mais longos, a partir do 2ºano do curso, em escolas
do 1º Ciclo do Ensino Básico.
Por
ser um processo gradual os alunos iniciam o estágio com
crianças do 3º ou 4º ano de escolaridade (2ºano do curso),
visto tratar-se de anos de escolaridade onde as aprendizagens
iniciais já estão mais consolidadas. O estágio prossegue
no 3ºano do curso em turmas do 1º ano de escolaridade,
tendo assim, os alunos a oportunidade de contactar com
o início das aprendizagens formais, continuando o estágio,
no 4º ano do curso, com a mesma turma, agora, no 2º ano
de escolaridade.
Os
estágios realizam-se em várias escolas do distrito, inserindo-se
no que sempre foi assumido pela ESE de Setúbal
como um factor a privilegiar, ou seja um factor enriquecer
e propiciador de um contacto directo dos alunos com as
diferentes realidades do 1º Ciclo e da profissão docente.
Assim, o estagiar em diversas escolas, diversas
turmas e em diferentes anos de escolaridade possibilita
aos alunos a vivência de experiências diversificadas,
nomeadamente com crianças de sexo, idade, nível de desenvolvimento,
religião, língua, ambiente social e cultural diferente,
de modo a aprenderem a (inter)agir de forma adequada
face à diversidade.
Todo
este projecto de formação aglutina diversos intervenientes,
nomeadamente todos os docentes do curso, com incidência
nos de Prática e Reflexão Pedagógica, os docentes das
escolas e das turmas onde se desenvolvem os estágios,
as crianças e as suas famílias num processo que se pretende
ser “um
vaivém entre ideias e experiências, entre teoria e prática,
tornando possível o ciclo recursivo entre aprendizagem
simbólica e aprendizagem experiencial” (Canário;
2001). |