por
António Mendes Lopes
(professor do Departamento de Desporto da ESE)
As crianças cresceram!
As crianças do ensino primário mudaram. Isso entende-se, isso vê-se. As
meninas influenciadas pelos seus ídolos sexy desejam ter um ar de mais
velhas. Quanto aos rapazes, esses vestem camisolas com a esfinge dos seus
heróis utilizando muito frequentemente a violência como forma de
comunicação.
Ao verem-se as crianças de
hoje nas escolas a insultarem-se entre si, e ao constatar-se que muitos dos
professores e dos vigilantes ficam completamente indiferentes face às
consequências destes actos, pode-se concluir que não nos apercebemos que
estamos perante crianças perturbadas na sua inocência e que, desde muito
cedo, pretendem “jogar” como os adultos.
É sabido que “as crianças
não acreditam mais no pai Natal”. Elas parecem ter perdido a sua
infantilidade, para viver as coisas que outrora outras crianças da mesma
idade nunca imaginou poder ser feito.
Algumas das crianças de
hoje já arrastam em si alguns factores de uma enorme responsabilidade; estão
mais preocupadas com problemas que muitas vezes lhes são transmitidos por
parte dos pais.
É
conhecido que a tendência das crianças para a agressividade provêm dum
ambiente difícil, habitualmente caracterizado por contextos de disputa. É ao
absorverem estes exemplos que elas manifestam na escola comportamentos
desviantes.
Costuma-se dizer que
fazemos o que aprendemos. Se por exemplo os pais utilizam ou proporcionam
aos olhos dos seus filhos, episódios de violência, as crianças farão o mesmo
no seu lugar privilegiado de aprendizagens - a escola. As crianças que
vivenciam momentos de menos afecto e comunicação, são frequentemente pouco
respeitadoras para com a autoridade. Este comportamento provém num grande
número dos casos de um tipo de relação que está presentemente tão em voga
nas famílias, a relação dos pais-amigo. Quer dizer em casa os pais têm
dificuldade em encontrar o limite entre a autoridade e a amizade. Não tendo
restrições em casa, as crianças não compreendem por que haverão de as ter na
escola ou noutros locais.
Esta situação é, antes de
mais, um problema da família. Ter os pais como recurso de comunicação e por
vezes de apoio terapêutico, é antes de tudo ter pais disponíveis para
estarem mais receptivos e capazes de ouvir e de desejar mudar a sua atitude.
O excesso de “mimos”, de
superprotecção para com os filhos e tudo o que se lhes compra para o seu
conforto, é, como se sabe, uma forma de compensação por os pais quase nunca
estarem no momento e no lugar certo com as crianças. É sabido que dar tudo
aos filhos não é a melhor solução. Seria bom não continuarmos a olhar para o
lado como se não percebêssemos que as crianças cresceram e que será bastante
preocupante se não compreendermos que ainda poderão crescer muitíssimo mais.
Se não estivermos ao seu lado agora, provavelmente, mais tarde já nem sequer
as reconhecemos como nossos filhos. |