por
Luisa Solla
(Departamento
de Línguas da ESE)
Quem é que disse que não são
precisos professores de Francês?
A
crónica de Eduardo Prado Coelho publicada no jornal Público de 9 de
Março, “A matemática da língua”, suscitou-me uma grande curiosidade porque a
relação entre a língua e a matemática que o título anunciava, me pareceu
interessante. Mal eu sabia o que ia ler!
Para quem não leu, em
síntese, é o seguinte: foi nomeada uma professora de Matemática para
coordenar o ensino do Português em França. Estava explicado o título e
gorada a minha expectativa inicial. Mas a história continuava e agora cito
EPC: “ A coordenadora do ensino do Português em França não sabe francês e
vai para as reuniões com um intérprete ao lado. Ela fala, o intérprete
traduz, ela ouve, o intérprete traduz, e assim vai dançando entre duas
línguas.” Bom, o meu interesse subiu vertiginosamente, tanto mais que tinha
lido a entrevista que a anterior coordenadora, Maria Isabel Barreno (MIB)
tinha dado ao Jornal de Letras (nº 872) e também referida por EPC.
Nessa entrevista MIB
contava que não tinha conseguido, enquanto coordenadora, ver aprovar pelos
governos PS e PSD medidas que fariam, provavelmente, alargar e consolidar o
espaço do ensino do Português em França. Aliás, já no seu livro Um
Imaginário Europeu (2000), Maria Isabel Barreno tinha escrito: “Às vezes
penso também que o nosso pior inimigo é a incerteza, do lado português,
quanto aos objectivos prosseguidos: manter os imigrantes ligados a Portugal?
Convencer o mundo da importância do Português como língua de comunicação?
Conseguir que o Português seja, de facto, uma opção possível no sistema de
ensino francês, e não só uma opção rara e pontual? Por estes objectivos me
esforço e me dizem que me esforce. Mas o que é um objectivo sem orçamento?”.
E agora pergunto eu, não
houve nem há orçamento para executar um plano que permita a realização de
pelo menos um dos objectivos de que fala MIB e há orçamento para pagar a um
intérprete para uma pessoa que aceitou desempenhar funções que exigem
domínio da língua francesa? Para não falar de outras competências...
Conhecedora do que MIB
contava na entrevista e relatava no livro, tendo sido, eu própria,
professora de Português em França nos anos 70 ( a designação era
“Assistente”) e formadora de professores de Francês, enquanto foram
precisos, achei inqualificável a situação criada por esta nomeação.
Será que não há em
Portugal professores de Português e/ou de Francês, jovens, disponíveis e
competentes para desempenhar essa função?
Tratar-se-á (ainda!) de
jobs for the boys ou, melhor dizendo, de jobs pour les filles?
Ah, mas como a senhora precisa de intérprete digamos que se trata de um
job que sai bastante caro ao erário público.
Quatro dias depois li:
“Ministro garante que a coordenadora em França fala francês” (Público de
13/03/04). A explicação do Senhor Ministro é lamentável. Só apetece
perguntar: Será que também toca piano?
O que fazer então, agora
que se sabe pelos jornais desta situação tão insólita quão ridícula?
Lamentar? Criticar? Exprimir indignação? Exigir responsabilidades?
O que não se deve fazer é
o mesmo que, sobre os candidatos ao Parlamento Europeu, li num título do
mesmo jornal (9/03/04): “ Parlamento Europeu não pode ser refúgio dourado ou
cemitério de elefantes.”
Eu dou uma sugestão que me
parece não só sensata mas coerente com a situação geral no país, no que diz
respeito a professores requisitados, caso seja este o caso: fazer regressar
a senhora professora de Matemática rapidamente à sua escola de origem. E,
claro, nomear para o lugar uma pessoa com todas as competências que a
função exige!
O país agradece e o ensino
do Português merece! |