Há
um ano escrevi uma crónica para este espaço
virtual do “Setúbal na rede”, que se
inspirou numa das minhas leituras de férias.
Desta vez, apetece-me escrever sobre os
sítios que escolhemos para passar férias e
sobre o desencanto que corresponde ao
regresso ao sítio onde moramos.
É evidente que nem todos sentirão esse desencanto,
uns porque não regressam de férias porque não vão
de férias, outros porque residem em sítios mais
agradáveis dos que escolhem para fazer turismo.
Creio que é normal que escolhamos sítios agradáveis
e interessantes para as nossas férias, sítios que
apresentem valores ambientais, paisagísticos ou
culturais com qualidade e que enquadrem de forma
adequada a concretização da nossa necessidade de
descanso e de fazer coisas diferentes daquelas que
fazemos durante o resto do ano. Se nestes sítios
também pudermos aprender alguma coisa de novo –
tanto melhor!
Quando chegamos ao nosso local de residência esperamos
reencontrar as condições que marcam as funcionalidades
do nosso quotidiano: a proximidade dos serviços
de que necessitamos, a acessibilidade aos locais
de trabalho e de estudo, a disponibilidade dos bens
de diferentes tipos de que depende o nosso bem-estar.
Por isto, os sítios onde moramos, sobretudo se morarmos
nos grandes aglomerados urbanos que definem as áreas
metropolitanas, não precisam de ser “bonitos”, precisam
de ser úteis e funcionais.
Esta perspectiva pode relacionar-se com as características
do crescimento urbano desta região, em que se respondeu
ao grande aumento da população com um parque habitacional
de reduzida qualidade e arquitectonicamente pobre,
com uma deficiente relação com o enquadramento natural
e parca de equipamentos sociais e de espaços de
lazer. Hoje, em muitos locais, poucas alterações
vemos: continua-se a construir desenfreadamente
sem se atender suficientemente a valores estéticos,
paisagísticos e ambientais e à medida que os edifícios
mais velhos se vão degradando.
Os poderes autárquicos parecem impotentes para
travar esta degradação crescente dos espaços onde
vivemos, parecendo continuar a responder casuisticamente
aos problemas criados pelo desordenamento e pela
pressão imobiliária, abstendo-se de uma gestão urbana
que antecipe e se oriente por uma ideia de cidade
como um espaço agradável para se viver.
Há quem defenda que as preocupações estéticas na
gestão urbana só podem surgir num estádio de desenvolvimento
das cidades em que as suas funcionalidades básicas
estejam asseguradas. No nosso caso, nesta região,
a resposta aos problemas funcionais imediatos vai
sucessivamente adiando e impedindo a construção
de planos a longo prazo, que possam ir preparando
e concretizando um espaço urbano mais agradável.
A questão coloca-se nestes tempos de pré-campanha
eleitoral para as Autarquias: Porque é que o sítio
onde vivemos não há-de ser semelhante aos sítios
bonitos onde passamos férias?
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