Há
com efeito um fosso entre a percepção do
tempo passado a trabalhar e o tempo
realmente consagrado ao trabalho. Isto é
provavelmente devido ao facto de o trabalho,
ser actualmente, bastante valorizado. Quanto
mais a semana de trabalho de um indivíduo é
longa, mais ele sobrevaloriza a duração real
do seu tempo de trabalho. Quando as pessoas
trabalham à volta de 36 horas por semana,
elas estimam um pouco mais ou menos
correctamente a duração do seu trabalho. Se
elas trabalham menos de 30 horas, elas
subestimam o tempo aí passado.
Uma boa forma para analisar o fenómeno consiste
não em medir a duração percebida, mas a duração
real do tempo consagrado ao trabalho. Aplicada esta
metodologia, ela demonstra bem que durante um longo
período, ou seja desde os anos 1960, que o tempo
real de trabalho tem vindo tendencialmente a diminuir.
Por outro lado, denota-se que desde os anos 1960,
o tempo consagrado às tarefas domésticas é suficientemente
estável e que o tempo de sono não mudou significativamente.
O único ganhador, é o tempo consagrado aos lazeres:
a televisão, os desportos, o ar livre, os espectáculos,
a cultura, etc. A semana de lazer é agora quase
tão longa como a semana de trabalho! Com efeito,
sempre que ganhamos tempo, por exemplo encurtando
a preparação das refeições, não é o mesmo destinado
para dormir ou para trabalhar mais. É para dedicar
mais tempo aos lazeres. É, no entanto importante,
considerar duas nuances. A primeira, o tempo
de trabalho teve efectivamente um acréscimo junto
dos profissionais e dos quadros; eles têm um sentimento
de trabalhar muito e isso corresponde à verdade.
Deve-se no entanto evitar aplicar a sua situação
ao conjunto da população, que, hoje, comparativamente
com à 40 anos, trabalha cada vez menos horas. O
aumento do tempo de lazer e a redução da semana
de trabalho foram atingidos rapidamente entre o
decénio de 1960 e os meados dos anos 1980. Depois,
a situação estabilizou.
Independentemente de existirem grupos menos activos
na população, como é o caso dos jovens e dos reformados,
não deixa de ser, desde os meados dos anos 1980,
o tempo consagrado às actividades físicas e desportivas
e de ar livre, no sentido mais vasto de termo, o
que mais tem aumentado, isto é, as actividades de
contacto com o exterior.
Mas estamos nós neste início do século, a viver
a sociedade activa dos lazeres como foi prometido
nos idos anos de 60?
Digamos que para uns sim e para outros não!
A sociedade dos lazeres é hoje para os reformados
que a vivem. Os grandes ganhadores do tempo livre
são aqueles que atingiram a sua reforma suficientemente
“jovens” e aqueles que se encontram com saúde. Também
os jovens beneficiam desta sociedade; independentemente
dos seus estudos e do trabalho (!).
Paradoxalmente para o resto da população,
fala-se de se atingir um equilíbrio. Quer
dizer, quanto aos outros, e em especial os
da geração de 1970 que estão algures para lá
do meio do caminho, terão ainda que
trabalhar, ao contrário das expectativas
criadas nas décadas anteriores, muito mais.
Resta saber, se quando chegarem ao fim do
seu percurso de trabalho ainda terão energia
e saúde para usufruir cabalmente da dita
sociedade dos lazeres. |