No decorrer da última década, professores, especialistas, intelectuais e
media têm gasto algum do seu tempo a discutir as reformas escolares,
repetindo permanentemente as mesmas coisas. Não há uma ideia nova.
Estamos cheios de lugares-comuns.
O futuro das crianças, cobaias da renovação pedagógica, está a ser
sacrificado por via dos delírios pedagógicos dos “cientistas da
educação” e dos tecnocratas do Ministério. Os conhecimentos são
desvalorizados em detrimento das competências (transversais). Por cá, a
palavra transversal está na moda. Ela está por todo o lado. Por quanto
tempo?
Os manuais escolares estão decorados de imagens e de leituras
incompreensíveis. Agora colocam-se uns exercícios ou uns textos à frente
dos alunos e pede-se-lhes que aprendam a aprender. Quanto aos
professores, estão lá apenas para orientar as aprendizagens e para fazer
a chamada “tutória”. As palavras “reprovado”, “zero” e “exame”
quase deixaram de existir. Os resultados, baseados nas competências,
obtidos em língua portuguesa, em matemática ou em ciências fundem-se
como neve ao sol.
Colocados em frente de turmas cheias de casos e de
problemas, os professores estão entregues a si próprios, procurando
dominar as situações de um sistema implantado de forma confusa. Os pais
estão distantes. A reforma em curso será, em suma, a perfeita ilustração
do nivelamento por baixo das aprendizagens dos alunos. Ela encerra todo
o peso das falhas sucessivas da rede geral da educação.
A pobreza, ou a quase inexistência, dos conhecimentos
na vida dos alunos é também fruto desse movimento pedagógico que tornou
as competências (transversais) omnipresentes na formação e na prática
docente.
Por exemplo, o não domínio da língua portuguesa à
saída do ensino secundário é hoje um dos graves problemas; o sistema
educativo tem-no descurado.
De quem é a responsabilidade? Do actual modelo da
formação inicial de professores? Do laxismo das escolas? Das ideologias
pedagógicas?
A actual reforma do sistema educativo, em curso, não
é melhor nem pior do que as anteriores.
A pretensa renovação pedagógica tem vindo a
questionar o paradigma do processo ensino-aprendizagem, substituindo-o
pelo da aprendizagem, no qual as competências (transversais) são um dos
seus elementos-chave.
Até quando é que vão durar os actuais clichés
instalados no sistema educativo português? Curiosamente, os professores
de sistemas educativos mais avançados, que no passado também aplicaram
estes clichés, não querem mais ouvir falar dos mesmos. Os
próprios sindicatos de professores destes países pedem o fim do
experimentalismo pedagógico. Dizem que é necessário restabelecer o
ensino sistemático dos conhecimentos para permitir que os alunos com
maiores dificuldades adquiram uma bagagem que não têm quando entram na
escola. Alguns destes sindicatos insistem, há algum tempo, na ideia de
que os conhecimentos devem ter prioridade sobre as competências. As
competências transversais são, nestes países, cada vez mais criticadas e
postas em causa.
Eu ainda me recordo dos meus (bons) professores. Dos
professores que me marcaram, que me ensinaram. Que me despertaram para a
vida e para o saber.
Que bons mestres!
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