... a defesa das ideias


• 08-11-2006 •
Educação
por António Mendes Lopes
(Professor do Departamento de Desporto da ESE)


 

Os conhecimentos antes das competências

 


No decorrer da última década, professores, especialistas, intelectuais e media têm gasto algum do seu tempo a discutir as reformas escolares, repetindo permanentemente as mesmas coisas. Não há uma ideia nova. Estamos cheios de lugares-comuns.

O futuro das crianças, cobaias da renovação pedagógica, está a ser sacrificado por via dos delírios pedagógicos dos “cientistas da educação” e dos tecnocratas do Ministério. Os conhecimentos são desvalorizados em detrimento das competências (transversais). Por cá, a palavra transversal está na moda. Ela está por todo o lado. Por quanto tempo?

Os manuais escolares estão decorados de imagens e de leituras incompreensíveis. Agora colocam-se uns exercícios ou uns textos à frente dos alunos e pede-se-lhes que aprendam a aprender. Quanto aos professores, estão lá apenas para orientar as aprendizagens e para fazer a chamada “tutória”. As palavras “reprovado”, “zero” e “exame” quase deixaram de existir. Os resultados, baseados nas competências, obtidos em língua portuguesa, em matemática ou em ciências fundem-se como neve ao sol.

Colocados em frente de turmas cheias de casos e de problemas, os professores estão entregues a si próprios, procurando dominar as situações de um sistema implantado de forma confusa. Os pais estão distantes. A reforma em curso será, em suma, a perfeita ilustração do nivelamento por baixo das aprendizagens dos alunos. Ela encerra todo o peso das falhas sucessivas da rede geral da educação.

A pobreza, ou a quase inexistência, dos conhecimentos na vida dos alunos é também fruto desse movimento pedagógico que tornou as competências (transversais) omnipresentes na formação e na prática docente.

Por exemplo, o não domínio da língua portuguesa à saída do ensino secundário é hoje um dos graves problemas; o sistema educativo tem-no descurado.

De quem é a responsabilidade? Do actual modelo da formação inicial de professores? Do laxismo das escolas? Das ideologias pedagógicas?

A actual reforma do sistema educativo, em curso, não é melhor nem pior do que as anteriores.

A pretensa renovação pedagógica tem vindo a questionar o paradigma do processo ensino-aprendizagem, substituindo-o pelo da aprendizagem, no qual as competências (transversais) são um dos seus elementos-chave.

Até quando é que vão durar os actuais clichés instalados no sistema educativo português? Curiosamente, os professores de sistemas educativos mais avançados, que no passado também aplicaram estes clichés, não querem mais ouvir falar dos mesmos. Os próprios sindicatos de professores destes países pedem o fim do experimentalismo pedagógico. Dizem que é necessário restabelecer o ensino sistemático dos conhecimentos para permitir que os alunos com maiores dificuldades adquiram uma bagagem que não têm quando entram na escola. Alguns destes sindicatos insistem, há algum tempo, na ideia de que os conhecimentos devem ter prioridade sobre as competências. As competências transversais são, nestes países, cada vez mais criticadas e postas em causa.

Eu ainda me recordo dos meus (bons) professores. Dos professores que me marcaram, que me ensinaram. Que me despertaram para a vida e para o saber.

Que bons mestres!