Com data de 6 de Fevereiro
último surge o Despacho Normativo nº7/2006, emanado do ME que, tal como
pode ler-se no seu objecto e âmbito “…estabelece, no âmbito da
organização e gestão do currículo nacional, princípios de actuação e
normas orientadoras para a implementação, acompanhamento e avaliação das
actividades curriculares e extracurriculares específicas a desenvolver
pelas escolas e agrupamentos de escolas no domínio do ensino da língua
portuguesa como língua não materna.”
Os dados conhecidos em Portugal mostram-nos a mancha da diversidade
linguística da população escolar, a sua distribuição por ciclos de
ensino, por distrito e, ainda, por país de origem dos jovens aprendizes
inseridos no sistema educativo público português. Segundo dados
recolhidos no ano lectivo de 2004/2005 e publicados em relatório da Rede
Eurydice, existem nas escolas públicas portuguesas, alunos de cerca de
120 nacionalidades. Sabe-se que a distribuição destes alunos muito
difere de distrito para distrito e está, obviamente, relacionada com os
movimentos migratórios provenientes da procura e da oferta de trabalho.
Nos últimos anos e com especial enfoque na última década, a diversidade
linguística das escolas portuguesas aliada, como o não poderia deixar de
ser, à heterogeneidade sociocultural tem sido objecto de estudos e de
produção de materiais de ensino do português língua não materna.
A produção de materiais tem sido, em muitos casos, fruto da
iniciativa de docentes confrontados, no seu dia-a-dia, com a necessidade
de encontrar respostas facilitadoras da aprendizagem da Língua
Portuguesa, veículo de todos os saberes escolares, face ao mosaico
linguístico das suas escolas e, ainda, com a necessidade de encontrar
respostas promotoras de aprendizagens interculturais. Estas iniciativas
pontuais tiveram como grande impulsionador o Secretariado Coordenador
dos Programas de Educação Multicultural não só ao nível de formação de
professores como, também, no apoio a projectos de escola e à produção de
diversos materiais.
Também o DEB (Departamento de Educação Básica) do ME criou grupos de
trabalho dedicados ao estudo e à produção de materiais directamente
relacionados com o português língua segunda. Com a última
(re)estruturação ministerial cabe à Direcção-Geral de Inovação e de
Desenvolvimento Curricular dar continuidade ao trabalho já iniciado, no
DEB. Também, o ACIME (Alto Comissariado para a Integração das Minorias
Étnicas) é outra das estruturas a incentivar e a produzir materiais
subordinados à mesma temática.
Entidades impulsionadoras e produtoras de materiais, como se pode
verificar, têm sido uma realidade presente, embora relativamente
recente. Uma realidade contrastante com os programas oficiais,
nomeadamente o de Língua Portuguesa para o 1º ciclo do Ensino Básico,
que tem como pressuposto ser o português a língua materna de todos os
utilizadores do sistema.
Face a este paradoxo e perante a já considerável produção de
materiais e de estudos referentes à temática, surge o Despacho Normativo
nº7/ 2006.
Mas, centrando-nos no despacho, faz-se referência ao Decreto-Lei
nº6/2001, de 18 de Janeiro, “… que comete às escolas e agrupamentos
de escolas a responsabilidade em proporcionar actividades curriculares
específicas para a aprendizagem da língua portuguesa como segunda língua
aos alunos do ensino básico cuja língua materna não é o português”. Pergunta-se: que foi feito para operacionalizar o mencionado no decreto?
O Artigo 2º do Despacho 7/2006, agora publicado, indica os grupos de
nível de proficiência linguística, criados com base no Quadro Europeu
Comum de Referência para as Línguas. Pergunta-se, de novo: que
divulgação efectuou o ME junto dos professores dos 3 ciclos do Ensino
Básico do documento referido? Que materiais disponibilizou às escolas e
aos agrupamentos sobre estes grupos de nível de proficiência
linguística?
Não querendo assumir o papel de “velho do Restelo” congratulo-me com a
legislação produzida lembrando que não se legisla no abstracto, mas
sobre uma questão específica… e, não podendo deixar de alertar para o
muito ainda a fazer… tarefas a implementar urgentemente… recordo, por
exemplo, a divulgação e sensibilização a documentos já existentes como é
o caso do Portfolio Europeu de Línguas, já na versão portuguesa, e a
formação inicial e contínua de professores numa área, até à data, pouco
ou nada trabalhada: Português língua não materna. |