Mais uma vez se comemorou o Dia Sem
Compras ('Buy Nothing Day') a 25 de Novembro. Quem soube dessa efeméride e
já agora, quem participou? Ora aqui está uma contradição típica destes novos
tempos de consumismo.
É que, nestes novos tempos, não há fuga ao consumo, desde o café da manhã
até à bica do jantar. Qualquer acto do nosso quotidiano pressupõe o consumo
de um bem; pelo que, enquanto consumidores, estamos sempre sujeitos à gestão
das expectativas que tais actos desencadeiam.
Através das marcas, as empresas condicionam-nos enquanto agentes
económicos, não apenas no que toca a factores racionais mas, principalmente,
no que diz respeito às formas de sentir e percepcionar emotivamente a
realidade.
O consumo – quer de bens, quer de serviços, quer de mensagens – depende,
essencialmente, da relação entre o preço, o rendimento dos consumidores, a
inovação tecnológica, os fenómenos de moda e de tradição, o meio
sociocultural em que o consumidor está inserido, assim como as suas formas
de promoção e de marketing. Neste âmbito as campanhas de publicidade e de
relações públicas funcionam como técnicas poderosíssimas de persuasão e
convencimento.
Assim, ao adquirirmos um veículo automóvel fazemo-lo na expectativa da
sua durabilidade, da sua economia, da sua segurança, do espaço, do conforto
e do impacto ambiental. Revelamos sentimentos de posse e de confiança,
transformamo-lo numa segunda casa. Pretendemos impressionar os outros, estar
na moda,... Mas, na prática, o veículo é apenas uma ferramenta que nos
permite deslocarmo-nos do ponto A para o ponto B.
Se "o consumo é o modo de vida da cultura moderna" (Jhally, Sut -
Os códigos da publicidade, 1995) optar pelo consumerismo – ou
consumismo esclarecido – é optar por uma forma moderna de contracultura.
Apesar de permanecer fora dos bancos da escola, dado o seu carácter
interdisciplinar e transversal ao currículo, a "educação do consumidor" (ou
"educação para o consumo") procura mudar comportamentos propondo slogans
tais como “comprar menos e melhor” em vez de “consumir mais por menos”. A
trilogia, tão em voga na geração anterior do "bom, bonito e barato" tem-se
revelado cara para a actual geração.
Nesta medida é cada vez mais urgente implementar as competências e os
saberes básicos para o exercício de uma cidadania plena, informada, activa e
responsável. O sobreendividamento das famílias, a obesidade infantil, a
segurança alimentar são alguns dos exemplos abundantemente explorados nos
blocos noticiosos. Estas notícias giram em torno da incapacidade que a maior
parte de nós demonstra em aceder à informação, compreendendo-a, de forma a
usá-la da melhor maneira enquanto consumidor. O processo aquisitivo
consciente e informado obriga-nos a assumir uma quota-parte de
responsabilidade enquanto agentes políticos, sociais e económicos.
Se o silêncio da comunicação social já não nos permitiu participar
activamente no Dia Sem Compras de 2006, aproveitemos a aproximação do Natal
para celebrar uma nova forma de estar no mundo globalizado do consumo.
Consumir de forma inteligente e com prudência: contribuamos
para formas de produção mais justas, para a eliminação da exploração do
trabalho infantil e para a preservação do ambiente. A economia doméstica é a
primeira a agradecer.
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