... a defesa das ideias


• 30-11-2006 •

Educação
por Alcina Dourado
(Vice-presidente do Conselho Directivo e Docente da ESE de Setúbal)


 

Bom, bonito, barato – sai caro

 

Mais uma vez se comemorou o Dia Sem Compras ('Buy Nothing Day') a 25 de Novembro. Quem soube dessa efeméride e já agora, quem participou? Ora aqui está uma contradição típica destes novos tempos de consumismo.

 

É que, nestes novos tempos, não há fuga ao consumo, desde o café da manhã até à bica do jantar. Qualquer acto do nosso quotidiano pressupõe o consumo de um bem; pelo que, enquanto consumidores, estamos sempre sujeitos à gestão das expectativas que tais actos desencadeiam.

Através das marcas, as empresas condicionam-nos enquanto agentes económicos, não apenas no que toca a factores racionais mas, principalmente, no que diz respeito às formas de sentir e percepcionar emotivamente a realidade.

O consumo – quer de bens, quer de serviços, quer de mensagens – depende, essencialmente,  da relação entre o preço, o rendimento dos consumidores, a inovação tecnológica, os fenómenos de moda e de tradição, o meio sociocultural em que o consumidor está inserido, assim como as suas formas de promoção e de marketing. Neste âmbito as campanhas de publicidade e de relações públicas funcionam como técnicas poderosíssimas de persuasão e convencimento.

Assim, ao adquirirmos um veículo automóvel fazemo-lo na expectativa da sua durabilidade, da sua economia, da sua segurança, do espaço, do conforto e do impacto ambiental. Revelamos sentimentos de posse e de confiança, transformamo-lo numa segunda casa. Pretendemos impressionar os outros, estar na moda,... Mas, na prática, o veículo é apenas uma ferramenta que nos permite deslocarmo-nos do ponto A para o ponto B.

Se "o consumo é o modo de vida da cultura moderna" (Jhally, Sut - Os códigos da publicidade, 1995) optar pelo consumerismo – ou consumismo esclarecido –  é optar por uma forma moderna de contracultura.

Apesar de permanecer fora dos bancos da escola, dado o seu carácter interdisciplinar e transversal ao currículo, a "educação do consumidor" (ou "educação para o consumo") procura  mudar comportamentos propondo slogans tais como “comprar menos e melhor” em vez de “consumir mais por menos”. A trilogia, tão em voga na geração anterior do "bom, bonito e barato" tem-se revelado cara para a actual geração.

Nesta medida é cada vez mais urgente implementar as competências e os saberes básicos para o exercício de uma cidadania plena, informada, activa e responsável. O sobreendividamento das famílias, a obesidade infantil, a segurança alimentar são alguns dos exemplos abundantemente explorados nos blocos noticiosos. Estas notícias giram em torno da incapacidade que a maior parte de nós demonstra em aceder à informação, compreendendo-a, de forma a usá-la da melhor maneira enquanto consumidor. O processo aquisitivo consciente e informado obriga-nos a assumir uma quota-parte de responsabilidade enquanto agentes políticos, sociais e económicos.

Se o silêncio da comunicação social já não nos permitiu participar activamente no Dia Sem Compras de 2006, aproveitemos a aproximação do Natal para celebrar uma nova forma de estar no mundo globalizado do consumo. Consumir de forma inteligente e com  prudência: contribuamos para formas de produção mais justas, para a eliminação da exploração do trabalho infantil e para a preservação do ambiente. A economia doméstica é a primeira a agradecer.


Alcina Dourado - 30-11-2006 17:29