... a defesa das ideias


18-04-2007 •

por Jorge Pinto
(Professor do Departamento de Ciências da Educação da ESE)

 

Uma oportunidade para reflectir sobre a avaliação

 

No campo do ensino básico e secundário a avaliação voltou a estar em grande destaque, desta vez não por causa da avaliação dos alunos, mas por causa da avaliação de desempenho dos professores particularmente pelo processo de avaliação que permite aceder à nova categoria de professor titular. Assistimos a um processo de negociação intenso entre os professores através das suas estruturas representativas e o Ministério da Educação. Será que esta experiência vivida pelos professores com a sua própria avaliação, é uma boa oportunidade de reflexão sobre a avaliação dos seus próprios alunos?

De todo processo o processo de negociação destaco três aspectos que podem ser base de reflexão: (i) a negociação que existiu em redor do processo de avaliação entre as partes interessadas; (ii) a definição e respectiva ponderação dos critérios de avaliação; (iii) o acordo entre os interessados sobre o que entender por assiduidade.

O primeiro aspecto mostra bem que apesar de todos estarem provavelmente interessados na melhoria da qualidade da educação, e eventualmente mesmo com os objectivos da avaliação, os interesses de quem pode avaliar não são necessariamente os mesmos de quem é avaliado. Por isso é necessário criar um espaço de negociação. Esta situação também é válida para as relações de avaliação entre alunos e professores.

O segundo aspecto mostra que a avaliação depende daquilo que for considerado como importante na vida profissional do professor e da sua maior ou menos valorização.

Decidir o que é destacado na avaliação e o que é mais valorizado é uma tarefa complexa de negociação entre os interessados, mesmo entre os próprios avaliados. Ser presidente do Conselho Directivo de uma escola durante dez anos ou ter sido professor, director de turma e coordenador de um projecto durante o mesmo tempo, são tarefas diferentes mas igualmente importantes para o bom funcionamento de uma escola. Todavia, depois de serem avaliados, estes percursos tornam-se desiguais em valor avaliativo. A valorização de um ou de outro, não é uma questão de técnica, mas da representação de quem tem o poder de decisão sobre o que é ser um bom professor titular. Também no caso dos percursos escolares dos alunos isto se verifica. Clarificar o que se pretende das aprendizagens ou o que se privilegia em termos de avaliação (critérios) é algo que ajuda a clarificar o que é ser bom aluno.

O terceiro aspecto mostra que nem sempre o que parece é. A definição operacional de assiduidade, algo aparentemente simples, foi um dos pontos mais controversos desta negociação. Apesar de se poder associar assiduidade à presença ou ausência no posto de trabalho, as coisas não são assim tão simples quanto parecem. Há situações em que as obrigações pessoais e sociais entram em conflito. A assistência aos filhos, por exemplo.

Em certos casos esta necessidade pode sobrepor-se à obrigação de comparecer no trabalho. Neste caso há factualmente uma falta ao trabalho, mas é como se lá estivesse sem estar. Assim, mesmo estes critérios de avaliação que parecem muito observáveis, mensuráveis, não se podem confundir com a própria realidade, sendo apenas uma interpretação desta. Há situações contextuais que “baralham” as regras do jogo, que relativizam aquilo que parece ser. Também aqui o diversificar as fontes de informação e sobretudo discutir com os alunos os seus resultados pode ser uma solução mais interessante e mobilizadora quer julgar de uma forma apressada.

Como é óbvio não pretendi neste texto fazer uma análise dos processos de avaliação dos docentes mas apenas chamar a atenção para alguns aspectos que também estão presentes na avaliação dos alunos ao longo dos seus percursos escolares, traduzidos nas suas notas e com consequências decisivas para o futuro de cada um. Uma consciência mais clara destes factos pode ajudar a evitar ter com os alunos, práticas de avaliação que os professores não quiseram para si e que felizmente, apesar de tudo, tiveram a oportunidade de negociar.


Jorge Pinto - 18-04-2007 09:19