No campo do ensino básico e
secundário a avaliação voltou a estar em grande destaque, desta vez não
por causa da avaliação dos alunos, mas por causa da avaliação de
desempenho dos professores particularmente pelo processo de avaliação
que permite aceder à nova categoria de professor titular. Assistimos a
um processo de negociação intenso entre os professores através das suas
estruturas representativas e o Ministério da Educação. Será que esta
experiência vivida pelos professores com a sua própria avaliação, é uma
boa oportunidade de reflexão sobre a avaliação dos seus próprios alunos?
De todo processo o processo de negociação destaco três aspectos que
podem ser base de reflexão: (i) a negociação que existiu em redor do
processo de avaliação entre as partes interessadas; (ii) a definição e
respectiva ponderação dos critérios de avaliação; (iii) o acordo entre
os interessados sobre o que entender por assiduidade.
O primeiro aspecto mostra bem que apesar de todos estarem
provavelmente interessados na melhoria da qualidade da educação, e
eventualmente mesmo com os objectivos da avaliação, os interesses de
quem pode avaliar não são necessariamente os mesmos de quem é avaliado.
Por isso é necessário criar um espaço de negociação. Esta situação
também é válida para as relações de avaliação entre alunos e
professores.
O segundo aspecto mostra que a avaliação depende daquilo que for
considerado como importante na vida profissional do professor e da sua
maior ou menos valorização.
Decidir o que é destacado na avaliação e o que é mais valorizado é
uma tarefa complexa de negociação entre os interessados, mesmo entre os
próprios avaliados. Ser presidente do Conselho Directivo de uma escola
durante dez anos ou ter sido professor, director de turma e coordenador
de um projecto durante o mesmo tempo, são tarefas diferentes mas
igualmente importantes para o bom funcionamento de uma escola. Todavia,
depois de serem avaliados, estes percursos tornam-se desiguais em valor
avaliativo. A valorização de um ou de outro, não é uma questão de
técnica, mas da representação de quem tem o poder de decisão sobre o que
é ser um bom professor titular. Também no caso dos percursos escolares
dos alunos isto se verifica. Clarificar o que se pretende das
aprendizagens ou o que se privilegia em termos de avaliação (critérios)
é algo que ajuda a clarificar o que é ser bom aluno.
O terceiro aspecto mostra que nem sempre o que parece é. A definição
operacional de assiduidade, algo aparentemente simples, foi um dos
pontos mais controversos desta negociação. Apesar de se poder associar
assiduidade à presença ou ausência no posto de trabalho, as coisas não
são assim tão simples quanto parecem. Há situações em que as obrigações
pessoais e sociais entram em conflito. A assistência aos filhos, por
exemplo.
Em certos casos esta necessidade pode sobrepor-se à obrigação de
comparecer no trabalho. Neste caso há factualmente uma falta ao
trabalho, mas é como se lá estivesse sem estar. Assim, mesmo estes
critérios de avaliação que parecem muito observáveis, mensuráveis, não
se podem confundir com a própria realidade, sendo apenas uma
interpretação desta. Há situações contextuais que “baralham” as regras
do jogo, que relativizam aquilo que parece ser. Também aqui o
diversificar as fontes de informação e sobretudo discutir com os alunos
os seus resultados pode ser uma solução mais interessante e mobilizadora
quer julgar de uma forma apressada.
Como é óbvio não pretendi neste texto fazer uma análise dos processos
de avaliação dos docentes mas apenas chamar a atenção para alguns
aspectos que também estão presentes na avaliação dos alunos ao longo dos
seus percursos escolares, traduzidos nas suas notas e com consequências
decisivas para o futuro de cada um. Uma consciência mais clara destes
factos pode ajudar a evitar ter com os alunos, práticas de avaliação que
os professores não quiseram para si e que felizmente, apesar de tudo,
tiveram a oportunidade de negociar.
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