“Oh! Uma Musa de Fogo, que
ascendesse ao mais luminoso céu da invenção um reino por palco,
príncipes a representar e reis a observar a cena arrebatadora” Shakespeare
O Teatro e a Educação são actividades inconciliáveis, contudo desde
os anos 60 se tem tentado com Calvet de Magalhães, Aldónio Gomes,
Madalena Perdigão e tantos outros implementar o teatro nas escolas.
Os anos das grandes inovações surgiram, todavia, só após 1974. Em
todo o país introduz-se na Formação de Regentes, Educadoras de Infância
e Professores do 1º Ciclo, nos Antigos Magistérios Primários, a
disciplina de “Música, Movimento e Drama”.
Surge então um 1º núcleo duro destas inovações, António Nóvoa (1),
Victor Esteves, Carlos Fragateiro, Amílcar Martins, Avelino Bento,
Carlos Cardoso, Isabel Alves Costa, Paula Folhadela, Maria do Céu Melo,
Madalena Leitão, Manuel Guerra, Francisco Beja, Miguel Loureiro, Maria
Santos e Tito Amorim e tantos outros
É de 1977 o documento que levanta o 1º problema conceptual: Teatro ou
Expressão Dramática. Na linha da Tabela Brechtiana que opunha o
Teatro Aristotélico ao Teatro Épico, Manuel Guerra e a sua Unidade
Infância de Évora apresentam a seguinte tabela:
Teatro |
Expressão Dramática |
Produto |
Percurso |
Texto |
Texto não
obrigatório |
Publico
Obrigatório |
Sem público |
Com cenário
decorativo |
Sem cenário
ou apenas um espaço vazio |
Marcações |
Sem
marcações |
Este mesmo ano marca o nascimento da APED – Associação Portuguesa de
Expressão Dramática. Dá-se o primeiro encontro entre Professores
portugueses e a professora do Québec, Giséle Barret, com largo percurso
na área da Educação e do Teatro. Tal encontro calará profundamente em
toda uma geração que já havia sido bastante marcada pelas perspectivas
inovadoras de professores e Mestres do Conservatório Nacional tais como
João Mota, Mário Barradas, Peter Brook, José Sasportes, Arquimedes dos
Santos e tantos outros…
Vivemos, então, um época de graça que não se voltou a repetir e
dificilmente se repetirá.
Ao relegar, nesta loucura bolonhesa, o teatro para as actividades de
enriquecimento curricular, dão-se dois “cortes” epistemológicos.
Aproveitando-se da fragilidade do corpo docente na área da expressão
dramática e teatro, corpo docente que raramente consegue a efectivação,
criou-se ou acentuou-se a ideia de que o teatro é um puro divertimento,
que não desenvolve competências autónomas, e que apenas serve para
ocupar os tempos livres.
1º Corte - Pão, Circo e laranjas. Não é por mero acaso que as quatro
expressões (Musical, Motora, Dramática e Plástica) ocupam agora apenas
30% dos currículos, pouco mais de 7,5%. O célebre LEC, Ler Escrever e
Contar, voltou ao ensino com 30% cada. A ideia utópica de um teatro
prático, desinibidor, criador de um espectador conhecedor e crítico da
sociedade do espectáculo fica mais uma vez adiada para as calendas de
jamais.
2º Corte – A transversalidade. Alguns tecnocratas da educação apontam
a hipótese da transversalidade da expressão dramática no ensino da
Língua, da Matemática, do Meio Físico e Social. Nada a opor. Contudo
exige-se conhecimento, rigor, seriedade (não confundir dramatização com
“bandalheira”; expressão dramática com o exercício puro da
desorganização.
No momento em que a educação para os media e a educação do espectador
(e do telespectador) mais necessitam de incentivos, parece-nos, desde
já, urgente uma profunda e esclarecida manifestação de indignação por se
comprometer a tão necessária criação de uma nova massa crítica… E exigir
que se devolva ao teatro o seu original e originário espaço no contexto
educativo.
(1) Actual Reitor da Universidade Clássica
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