O orgulho de falar português
Diário de Notícias
(Internet), 11 de Fevereiro de 2000
Um
exercício prático mostra o que pensam professores timorenses sobre a língua
portuguesa. Numa carta dirigida a Jorge Sampaio agradece-se o facto de Portugal
não ter esquecido Timor
Luísa
Melo
em
Díli
Em
vésperas da visita do Presidente Jorge Sampaio a Timor Lorosae, a questão da
escolha do português como língua oficial ganha outras dimensões. Até no
curso-piloto de reciclagem dos professores do ensino básico o português foi
tema de aula e os formandos escreveram uma carta, com o destinatário à escolha
de cada um, sobre o assunto.
As
missivas são geralmente dirigidas a parentes, mas há quem tenha escrito ao
chefe da missão portuguesa em Timor e ao Presidente da República Portuguesa.
Leonel
de Jesus Carvalho, numa carta endereçada ao padrinho, explica por que razão é
importante que o português seja a língua oficial: "Desta forma, Timor,
Portugal, Brasil e outros países-irmãos que estão em África e falam a mesma
língua poderão unificar-se num grande bloco lusófono, que é um grande orgulho
para nós no mundo." Uma ideia corroborada por Fernanda Ximenes, que diz
que "Timor Lorosae é e será uma nação com a sua própria identidade e fará
parte da comunidade lusófona".
Dirigindo-se
ao chefe da missão portuguesa em Timor-Leste, Luís Januário da Costa aproveita
a oportunidade para apresentar as necessidades dos timorenses em matéria de
língua portuguesa e faz alguns pedidos: "Continuidade do curso de
reciclagem; abertura de escolas para a formação de professores em Timor-Leste;
envio de professores timorenses para se aperfeiçoarem e aprenderem em Portugal;
criação de bibliotecas nas escolas primárias; envio de materiais didácticos;
necessidade de se fazerem dicionários tétum-português e português-tétum; livros
de exercícios e revistas portugueses."
Domingos
Doutel Soares, por seu lado, escreve a Jorge Sampaio e começa por lhe agradecer
o envio de professores instrutores: "Para mim, é uma alegria que o Governo
português nunca tenha esquecido a sua estada ao longo de 450 anos em Timor. A
ciência, a civilização e a evangelização - é tudo de origem portuguesa." O
pedido a Sampaio é claro: "Não se esqueça de nos dar apoios políticos,
morais e materiais." Mas a escolha do português como língua oficial não é
consensual: "Muitos dos nossos letrados, que tiraram o curso no tempo da
Indonésia, não aceitam", explica Elisa da Costa, numa carta para a irmã.
Esta professora do 1.º ciclo considera, no entanto, que o português é importante,
porque "só com a língua portuguesa podemos mostrar ao mundo a nossa
identidade. Mostrar quem somos, de onde viemos e o que queremos. Fomos
colonizados pelos portugueses e queremos que essa língua seja a língua
oficial".
As
referências religiosas estão sempre presentes e Fernando considera mesmo que
foi "graças à divina Providência que a língua portuguesa ressurgiu depois
de tantos anos de hibernação".
Em
matéria de língua portuguesa, os professores da Escola Superior de Educação de
Setúbal, que estão a ministrar o curso de reciclagem, também não poderiam ser
esquecidos e Abílio da Conceição dirige-se ao coordenador da iniciativa, José
Vítor Adragão, agradecendo a sua "disponibilidade, a energia, a
inteligência" e pedindo que os "guie com a heroicidade dos seus antepassados
neste curso-piloto".