CINDERELA
Era uma vez um fidalgo que, tendo perdido a primeira mulher, tornou a casar com outra muito altiva e orgulhosa.
Esta
era mãe de duas meninas tão desagradáveis quanto ela, enquanto que o marido
tinha uma filha de uma doçura e de uma bondade excepcionais. Mal foi celebrado
o casamento, a madrasta revelou logo o seu mau humor contra a filha do marido. Não
podia suportar a sua gentileza que fazia sobressair, ainda mais, a maldade das
suas duas filhas.
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Então,
para se vingar, ela obrigou-a a fazer todos os trabalhos de casa e mandou-a
dormir num enxergão no celeiro. Quando acabava o seu trabalho, a pobre menina
sentava-se ao canto da chaminé, no meio da cinza. Era por isso que as duas irmãs,
para fazerem troça dela, lhe chamavam Cinderela. Mas elas podiam rir á
vontade, porque mesmo mal vestida, Cinderela era cem vezes mais bonita que elas!
Um
dia, o filho do rei deu um baile. As duas irmãs estavam na lista de convidados.
Que agitação naquela casa! Não se falava noutra coisa!
-
Eu
- dizia a mais velha – vou pôr o meu vestido de veludo vermelho e a minha
gola de renda.
-
Eu
– dizia a mais nova – vou pôr a saia do costume, mas por outro lado, vou pôr
o meu casaco de flores de ouro e o meu
diadema de diamantes.
Cinderela
teve de trabalhar ainda mais do que o costume! Preparou os vestidos, limpou-os e
passou-os a ferro. Gentilmente, deu conselhos às duas irmãs sobre os seus
vestidos e ofereceu-se mesmo para as pentear.
As
duas maldosas irmãs aceitaram e troçaram:
-
Cinderela,
gostarias de ir ao baile?
-
Oh!
É impossível! – respondeu a menina.
-
Tens
razão, seria de morrer a rir, se vissem uma Cinderela no baile!
Outra
que não fosse Cinderela, ao ouvir isto, tê-las-ia penteado mal, mas ela era tão
boa que as penteou muito bem.
Por
fim, o dia do baile chegou, e as duas irmãs partiram. Quando deixou de as ver,
Cindrela pôs-se a chorar.
-
Gostarias
muito de ir ao baile, não é verdade? – disse uma voz. A sua madrinha, que
era fada, estava ali diante ela.
-
Oh,
sim! – suspirou Cinderela por entre os soluços.
-
Pois
bem! Irás, prometo-te! Depressa, corre ao jardim e traz-me uma abóbora.
Cinderela
foi logo colher a mais bela abóbora que encontrou. A madrinha pousou-a e
tocou-lhe coma varinha: a abóbora transformou-se imediatamente numa bela
carruagem dourada.
-
Agora,
Cinderela, levanta um pouco a armadilha da ratoeira.
Cinderela
obedeceu e cada rato que saíu foi transformado, com um golpe de varinha, num
cavalo cinzento-ruço. Formou-se uma soberba parelha. Em seguida, com mais dois
golpes de varinha, a madrinha-fada transformou um rato num gordo cocheiro com
uns soberbos bigodes, e seis lagartos em lacaios com fardas coloridas.
-
Pronto!
Aqui está o que tu precisavas para ires ao baile, Cinderela. Estás contente?
– perguntou-lhe a madrinha.
-
Sim,
estou.. Mas não posso ir assim com as minhas feias roupas!
Então
a madrinha tocou-lhe com a varinha e o vestido de Cinderela
transformou-se num vestido de ouro e prata, todo bordado de pedrarias. Deu-lhe
em seguida o mais belo par de sapatos de vidro do mundo.
-
Não
saias do baile depois da meia-noite! – disse-lhe ela antes de partir. – Senão
tudo o que foi transformado voltará a ser como era antes!
-
Prometido!
– disse Cinderela. E partiu.
Quando
chegou ao castelo, o filho do rei correu a recebê-la. “Uma grande princesa
desconhecida acabara de chegar!”, tinham vindo dizer-lhe. Ele pegou-lhe logo
na mão e levou-a para a sala de baile. Fez-se silêncio. Todos pararam
de dançar e os violinos não tocaram mais; toda a gente só tinha olhos
para a desconhecida que acabava de entrar.
Um
doce murmúrio encheu a sala.
-
Oh!
Como é bela! Como é bela! – repetiam todos.
O
filho do rei convidou-a para dançar: ela era tão graciosa, tão leve, que
ainda a admiraram mais. Ele não a deixou em toda a noite. Nem parou de lhe
falar e de lhe dizer galanteios.
Cinderela,
encantada pelas suas palavras, esqueceu tudo. Esqueceu mesmo o que a madrinha
lhe tinha dito. Quando a primeira badalada da meia-noite soou, ela pensava que
eram só onze horas: levantou-se de
um salto e fugiu.
E
foi toda ofegante, sem carruagem, sem lacaios e com as suas feias roupas que a
Cinderela chegou a casa.
No
regresso do baile, as duas irmãs disseram-lhe:
-
Veio
ao baile, esta noite, uma princesa magnífica;
á meia-noite fugiu tão rapidamente que deixou cair um dos seus
sapatinhos de vidro. O filho do rei apanhou-o e não fez mais nada durante o
resto do baile, senão olhar para ele. É garantido: ele está apaixonado por
essa princesa!
As
duas irmãs diziam a verdade, porque, alguns dias mais tarde, o filho do rei fez
anunciar que casaria com aquela a quem o sapato servisse.
Começaram
por o experimentar a todas as damas da corte. Em vão! Levaram-no, então,
a casa das duas irmãs que fizeram todos os possíveis para meter o pé
dentro do sapato. Não conseguiram.
-
Vamos
a ver se ele me serve! – disse então a Cinderela.
As
irmãs puseram-se a rir e a fazer troça dela.
Mas
o fidalgo que experimentava o sapato achou Cinderela muito bela.
-
Tenho
ordens para experimentar o sapato a todas as jovens do país! Portanto, menina
– disse ele a Cinderela – sente-se aí e vamos ver se ele lhe serve!
Cinderela
sentou-se e, imediatamente, sem dificuldade, meteu o pé no sapato.
As
duas irmãs estavam estupefactas e ainda mais ficaram quando viram Cinderela
tirar do bolso o outro sapatinho.
Para
cúmulo da surpresa, a madrinha fada apareceu e, com um golpe
de varinha, tranformou a roupa de Cinderela.
-
Oh!
A princesa do baile! – exclamaram as duas irmãs...- perdoa-nos, perdoa-nos
todo o mal que te fizemos! – E prostaram-se aos seus pés.
Cinderela
perdoou-lhes. Depois levaram-na junto do filho do rei que a achou mais bela do
que nunca e que casou com ela poucos dias depois!
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