Sobre o autor...
Extractos de entrevistas realizadas por Luís Souta a dois escritores - Maria Rosa Colaço e Fernando Dacosta - em que se fala de Agostinho da Silva.
«Tem tido [A Criança e a Vida] enormes reflexos na vida cultural e no campo escolar…
Foi traduzido para várias línguas, foi tema de doutoramento em Cuba (por lá toda a gente conhecia o livro). O professor Agostinho da Silva fê-lo chegar lá. No Brasil fez-se uma peça de teatro. Na Galiza havia uma revista chamada «Chã» que dedicou números e números à A Criança e a Vida. Quando regresso de África, os operários da Mague tinham feito uma peça com fragmentos do livro... E foi-se alastrando pelo mundo inteiro...»
“A Voz da Escrita: a escola na palavra dos escritores”,
ESE de Setúbal, 2002, p. 247 [entrevista a Maria Rosa Colaço].
«Mostra um especial carinho e admiração por Natália Correia e Agostinho da Silva.
Sim, eram seres adiantados no tempo que lhes coube. Os livros de Natália só vão ser percebidos daqui por umas décadas. O mesmo se passa com o pensamento de Agostinho da Silva. Ele tinha a crença de que Portugal poderá voltar a ser diferente. Hoje encontra-se no mesmo plano que as suas ex-colónias. É um pequeno país que pode, com a sua dignidade, a sua cultura, funcionar como uma plataforma de contacto entre as várias forças mundiais. Estamos a atravessar uma das fase das mais difíceis, mas também das mais apaixonantes da história da humanidade, em que não se sabe o que vai acontecer.»
“A Voz da Escrita: a escola na palavra dos escritores”,
ESE de Setúbal, 2002, p. 285 [entrevista a Fernando Dacosta].
«Sempre me dei com grandes vultos deste país e muito desse contacto é o tema do meu próximo livro Nascido no Estado Novo. Um dos grandes vultos com quem andei, e que me marcou profundamente, foi o professor Agostinho da Silva.
Ele tinha uma visão catastrofista do futuro próximo de Portugal: depreciava por completo a Comunidade Europeia que considerava uma firma de ‘secos e molhados’, sem importância alguma. Por outro lado, o professor Agostinho da Silva tinha uma grande crença em que Portugal (que andou pelo mundo inteiro, durante cinco séculos, a acrescentar-se a si próprio com os outros povos, e a enriquecer-se) poderia voltar a ser um povo diferente, do ponto de vista internacional. Um povo afável e até um povo de grande utilidade, porque a nossa especialização, se é que nós temos alguma especialização (eu diria que, felizmente, não temos especialização nenhuma), é saber lidar com os diferentes, ser “capataz”, ou seja, servir de intermediários entre os capitalistas e a mão-de-obra qualificada ou assalariada. Foi sempre o que nós soubemos fazer bem e que, no futuro, nos pode render bastante.»
Extracto não publicado da entrevista a Fernando Dacosta.
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