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Exposições 2007/08

«O Tesouro mais precioso - a Bíblia na vida de um viajante português do séc. XVII João Ferreira Annes d'Almeida»

De 7 a 11 de Abril | Átrio da ESE

“Esta é uma exposição bio-bibliográfica, cuja ideia inicial resultou de uma parceria entre a Sociedade Bíblica e a Câmara Municipal de Mangualde. Tem por objectivo a divulgação da vida e obra da figura ímpar para a cultura e literatura portuguesas que foi João Ferreira de Almeida. Esta iniciativa surge no âmbito das celebrações do 325.º Aniversário da editio princeps do primeiro Novo Testamento em língua portuguesa. Nestes 325 anos a “Bíblia de Almeida” teve já cerca de 1500 edições e mais de 150 milhões de Bíblias e Novos Testamentos impressos, juntamente com incontáveis milhares de milhões de pequenos opúsculos e folhetos. Este é, em resumo, o impacto quantificável de uma vida. O sonho do humilde tradutor português, emigrante na Ásia, começou a cumprir-se: tornar a Bíblia conhecida de todos aqueles que falam português. A tradução da Sagrada Escritura conhecida pelo seu nome é, incomparavelmente, a obra mais publicada e divulgada da língua portuguesa, constituindo-se como um dos principais instrumentos de expansão da língua portuguesa no mundo.

Quem foi João Ferreira De Almeida

Nasceu na povoação de Torre de Tavares da freguesia de Várzea de Tavares, concelho de Mangualde, em dia incerto de 1628. De seu nome completo João Ferreira Annes D'Almeida, continua sem se saber até à presente data quem foram os seus progenitores ou mesmo outros membros da família de parentesco mais próximo. Ainda em tenra idade, provavelmente depois de ter ficado órfão de pai e mãe, terá sido levado para Lisboa onde foi entregue a um tio que exercia o seu múnus espiritual como sacerdote católico romano. Com o seu tio a educação do jovem Almeida deverá ter passado por várias disciplinas do saber, entre as quais certamente o Latim que lhe teria sido muito útil na principal obra da sua vida: a tradução da Bíblia para português. João Ferreira de Almeida viveu em Lisboa até 1640 ou 1641 e, sem se saber as verdadeiras razões e se foi por vontade dele ou de terceiros, acaba por abandonar a capital do Reino cuja independência tinha sido recentemente restaurada. Assim, encontramos o adolescente Almeida, com apenas 13 anos de idade na cidade de Amesterdão, na Holanda, de onde parte, passado pouco tempo, para o Extremo Oriente. Em 1642, João Ferreira de Almeida está já em Malaca, depois de passar algum tempo em Batávia, actual cidade de Jacarta, na Indonésia. Quando Almeida viajava de Batávia para Malaca alguém lhe ofereceu um pequeno livrete, escrito originalmente em castelhano, e que ele próprio viria a traduzir para português, anos mais tarde, sob o título Differença da Christandade. No final da leitura deste texto, João Ferreira de Almeida acabaria por abraçar a Fé Reformada (Protestante) vindo-se a tornar um membro da Igreja Reformada Holandesa, de língua portuguesa, a qual existia na região desde 1633 e que só viria a ser extinta em 1808. Ferreira de Almeida viveu em Malaca entre 1642 e 1651, colaborando com a comunidade protestante local através de visitas a doentes, apoio a marinheiros e viajantes que ali aportavam, ensinando as crianças a ler e a escrever, ao mesmo tempo que iniciava a primeira tradução da Bíblia Sagrada para a língua portuguesa. Este notável feito aconteceu quando Almeida tinha apenas 16 anos de idade. Abandonando Malaca em 1651, Almeida dirige-se novamente para Batávia. Foi-lhe, então, sugerido que adquirisse preparação teológica, razão pela qual Almeida passa a frequentar o Seminário da Igreja Reformada Holandesa naquela cidade. Termina os seus estudos em 1654, mas antes de ser enviado como missionário passa por um estágio de 2 anos, ainda em Batávia. Desta forma, João Ferreira de Almeida tornava-se o primeiro Pastor protestante português, mais de 100 anos depois da Reforma iniciada na Alemanha por Martinho Lutero, em 1517. Em Outubro de 1656, Ferreira de Almeida, a sua esposa, Lucrécia Valcoa de Lemos e o seu colega Baldaeus partem para o sul da Índia e Ceilão, onde missionam durante vários anos em diversas localidades da região.

Em Maio de 1663, Almeida regressa a Batávia de onde não mais sairia. Algum tempo depois do seu regresso do sul da Índia, assume a responsabilidade da Igreja Reformada de Batávia, de língua portuguesa, onde se iria manter como Pastor quase até ao seu falecimento provavelmente em Agosto de 1691. Foi durante este último período em Batávia que Ferreira de Almeida viria a assistir com muita alegria à primeira edição do Novo Testamento por si traduzido para português. Esta obra foi impressa na Holanda, em Amesterdão, mas o destino final dos exemplares produzidos era fundamentalmente o Extremo Oriente, onde as diversas comunidades de língua portuguesa já deveriam conhecer a obra de Almeida, pelo menos desde

1654. Não foi isenta de peripécias esta primeira edição do Novo Testamento datada de 1681, mas a verdade é que a partir daqui a língua portuguesa passaria a ter a sua primeira tradução bíblica. Almeida traduziu ainda a maior parte do Antigo Testamento, já que o seu falecimento o impediu de traduzir o final do livro de Ezequiel, o livro de Daniel e os Profetas Menores. Este trabalho viria a ser completado por um Pastor holandês, Jacobus op den Akker, que havia colaborado estreitamente com Almeida. Com a edição do Antigo Testamento (Tomo I em 1748 e Tomo II em 1753) completar-se-ia a edição da “Bíblia de Almeida”que se tornou na obra literária em língua portuguesa mais divulgada de sempre, um autêntico monumento da cultura e da espiritualidade, tantas vezes ignorado pelos próprios portugueses e por muitos dos 200 milhões de pessoas que falam português pelo mundo. João Ferreira de Almeida contraiu casamento com a já mencionada D. Lucrécia, de quem teve dois descendentes. Nasceu primeiro uma filha e, já depois do seu regresso do sul da Índia, um filho a quem foi dado o nome de Mateus. Para além da magistral obra de tradução da Bíblia para português, a maior parte dos escritos de João Ferreira de Almeida são pequenas obras, na maior parte dos casos de natureza polémica, tendo em conta a crispação religiosa da época. Foram produzidos nos diversos locais por onde Almeida foi passando, mas impressos apenas quando a pequena tipografia foi montada em Batávia. Entre estas obras incluem-se A Diferença da Cristandade (impressa em 1668), Duas Epistolas e Vinte Propostas… (publicadas em 1672), Epístola ou Carta… aos Padres e Religiosos Agostinhos de Bengala, Relação Epistolar ou Carta … ao Senhor João Correia de Mesquita … em Bengala, Poema Ovium, Seis Propostas enviadas aos eclesiásticos de Goa, a que Almeida acrescentou mais Doze epístolas já que não recebeu qualquer resposta às iniciais, Esopete Redi Vivo que contém a introdução e a revisão, em português, das Fábulas de Esopo Frígio, Catecismo de Heidelberg e Liturgia. João Ferreira de Almeida foi homenageado por um grupo de cidadãos de Torre de Tavares em 1981 por ocasião do 300.º Aniversário da publicação da primeira edição da sua tradução do Novo Testamento. Em Maio de 2006 a Câmara Municipal de Mangualde homenageou a personalidade e a obra de João Ferreira de Almeida, atribuindo o seu nome a uma rua da cidade.”

Fonte:
Sociedade Bíblica de Portugal
Sector Animação Bíblica e Cultural
(Dr. Simão Silva)
Rua José Estêvão, 4-B
1150-202 Lisboa
Tel. 213 545 534
Fax: 213 527 793
Email: s.silva@sociedade-biblica.pt
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Data da última actualização: 7-04-2008
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