Projecto interinstitucional "Língua e Comunicação"

Escola Superior de Educação de Setúbal (IPS) e Instituto Superior Técnico (UTL)

Historial do Projecto

Uma das vertentes singulares da Didáctica do Português é a que se designa “Português para fins específicos”, querendo dizer, com esta enunciação, fins académicos, técnicos ou profissionais. Uma das suas características é a exigência de se estabelecer o quadro das necessidades linguísticas do(s) aprendente(s). Deste modo, as necessidades de aprendizagem têm de ser detectadas, clarificadas, hierarquizadas, antes de se estabelecer um programa, o qual, ainda assim, terá de ser continuamente avaliado e adequado à evolução dos aprendentes.

Estas finalidades consubstanciam os programas que se vão construindo nos diversos âmbitos. Nomeadamente, elas definem os princípios norteadores da concepção e implementação do trabalho em torno do Módulo de Língua Portuguesa, cuja organização é assumida pela Escola Superior de Educação de Setúbal (ESE) - Departamento de Línguas, a pedido do Conselho Pedagógico (CP) do Instituto Superior Técnico (IST) e que constitui a substância do programa interinstitucional que a ESE de Setúbal estabelece com aquele instituto, desde o ano lectivo 2003-04.

A equipa responsável da ESE é constituída pelos Professores José Victor Adragão e Fernanda Botelho que assumiram, desde o início, a responsabilidade institucional de o conceber, organizar e coordenar, elaborando e avaliando os vários programas que o módulo foi assumindo, assegurando a formação e acompanhamento pedagógico dos monitores a quem tem sido entregue a sua leccionação.

Inicialmente, este projecto destinou-se a melhorar a competência em Língua Portuguesa dos estudantes do 1º ano dos cursos leccionados no Departamento de Química - Licenciaturas em Engenharia Química, em Engenharia Biológica e em Química e radicava nas dificuldades surgidas por ocasião da redacção dos relatórios dos seus trabalhos e na defesa oral das suas posições.

Em ordem a organizar uma resposta consistente, concebeu-se um projecto de investigação, assumido pela ESE, que foi aplicado, a título experimental e com carácter facultativo, a uma população de 101 estudantes deste Departamento (91% do universo total). Decorreu no 2º semestre do ano lectivo de 2003-04.

A avaliação do trabalho desenvolvido, a consciência reforçada das dificuldades sentidas pelos alunos do IST no domínio da Língua Portuguesa, bem como o sucesso conseguido nesta fase justificaram a continuidade do trabalho iniciado.

Estas razões levaram, de novo, o CP do IST à reedição e alargamento do módulo a outros cursos. Ajustaram-se conteúdos e procedimentos, de acordo com as avaliações realizadas e de molde a melhorar a prestação pedagógica.

No segundo ano do projecto (2004-2005), a experiência alargou-se aos cursos de Engenharia Mecânica, Engenharia de Materiais e Arquitectura, num total de 250 alunos, organizados em 12 turmas.

Considerou-se igualmente importante que o programa mantivesse, de novo, um conjunto de 20 lições de duas horas e tivesse como meta a consecução dos seguintes objectivos:

• De âmbito académico: capacidade de se exprimir fluentemente, com vocabulário diversificado, planeando o que se quer dizer e escrever e dominando técnicas comunicativas, tais como clarificar ideias, demonstrar, tirar conclusões, organizar e sintetizar informação.
• De âmbito pré-profissional: capacidade de planear actividades variadas, apresentar propostas, dar informações, apresentar ideias e persuadir.

A importância de continuar a investir em Língua Portuguesa, de alargar a outros alunos de 1º ano do IST e a alunos de outros anos foi, de novo, salientada tanto por estudantes, como pelos docentes envolvidos nestes cursos. Em alguns casos, esta opinião foi manifestada de forma muito entusiasmada e calorosa.

O trabalho de interacção com os monitores, com os professores do IST e, indirectamente, com os estudantes envolvidos revelou-se particularmente importante na medida em que, desde cedo, se detectaram especificidades em cada curso que obrigaram a ajustamentos sucessivos do programa, dos materiais pedagógicos e até da própria metodologia de ensino.

Na decorrência da avaliação permanente deste projecto e de acordo com o interesse demonstrado pelos responsáveis dos respectivos cursos, o CP do IST decidiu alargar o módulo de Língua Portuguesa em 2005/2006 às seguintes licenciaturas:

• Engenharia Informática e Computadores (LEIC);
• Engenharia de Redes de Comunicação e Informática (LERCI);
• Engenharia e Gestão Industrial (LEGI);
• Engenharia do Território;
• Engenharia Naval.

O trabalho organizou-se, tendo por base duas ofertas de programa, uma correspondente ao 1º ano dos cursos e outra para os alunos mais avançados, mantendo-se no entanto, num caso e noutro, a mesma oferta de lições (20 de 2 horas cada), tendo como meta a consecução dos objectivos anteriormente definidos e reconhecidos como prioritários.

Pela primeira vez, a leccionação teve lugar não só no campus da Alameda mas também no Tagus Parque. Das vinte e uma licenciaturas oferecidas pelo IST, interviemos em onze, com dois tipos de desenvolvimento em Língua Portuguesa, visando consolidar os conhecimentos e as competências discursivas dos estudantes, em ordem a promover uma melhoria da sua competência comunicativa (oral e escrita), não só nas suas prestações em situações de avaliação, como no exercício futuro da profissão.

Salientando o que no início dissemos sobre a peculiaridade do Português para fins específicos, isto é, a partir de um módulo experimental e cuja testagem apontava para a sua generalização, defrontamo-nos, em permanência, com uma situação de análise, clarificação e adequação do programa à especificidade dos profissionais a formar, caso a caso.

No próximo ano lectivo e de acordo com as alterações estruturais decorrentes da aplicação da Declaração de Bolonha aos cursos do IST, prevê-se a intervenção da ESE de Setúbal naquele Instituto, abrangendo uma população estudantil superior a 1400 alunos.

Fernanda Botelho
José Victor Adragão
Março de 2006